Pablo Marçal no SBT
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Pablo Marçal no SBT


A recente inelegibilidade decretada contra o 'coah da mentira' Pablo Marçal, que o impede de concorrer nas próximas eleições, é, no mínimo, um reflexo de um fenômeno mais amplo e alarmante na política brasileira: a crescente ascensão de figuras públicas sem qualquer história ou legado político, mas com uma popularidade construída nas redes sociais ou em outros meios midiáticos.

Em tempos de populismo crescente e crise de confiança nas elites políticas tradicionais, indivíduos como Marçal, que buscaram uma carreira política alicerçada em sua notoriedade a qualquer preço, deixa agora um caminho aberto que fica para outros “outsiders”, cujas propostas são inexistentes e muitas vezes perigosamente desinformadas. Quem vai carregar no peito agora a representatividade dos 'sem bagagem'?


Este tipo de “deslocamento” da política por figuras que não têm nada a oferecer além de seu rosto famoso é algo que remonta a um fenômeno histórico recorrente, no qual os movimentos populistas alimentam a ideia de que qualquer pessoa, sem experiência ou compreensão profunda da política, pode ser “um líder natural”.

A história, no entanto, nos ensina que esses movimentos não são apenas fadados ao fracasso, como Marçal, mas representam uma distorção dos princípios democráticos. A ascensão de celebridades à política, como vemos no caso recente de Gusttavo Lima e Marçal - que agora é bola fora - é uma sombra das antigas figuras populistas, que usavam a fama para construir uma base de poder sem respaldo em uma agenda de ideias sólida. No fundo, são celebridades que, ao entrarem na política, substituem o debate de ideias pela “marca” que representam.

Analisando mais profundamente, esse fenômeno não é novo. No Brasil, ao longo das últimas décadas, vimos figuras como Collor, que se lançou à presidência com um discurso de renovação, mas que falhou em lidar com as complexidades de governar uma nação. A experiência não se compra, e a política não é um palco para o entretenimento. Acredite-se ou não, a política exige uma vivência contínua de análise crítica, reflexão estratégica e, acima de tudo, uma consciência das várias camadas da sociedade que exigem ações coordenadas e não slogans vazios. Quando uma personalidade do mundo do showbusiness ou da mídia entra no cenário político, ela precisa demonstrar que entende essas camadas — algo que, lamentavelmente, figuras como Marçal e Gustavo Lima, por mais que tenham carisma com seus públicos, não conseguem.

A política não é uma extensão do mercado de entretenimento; ela é sobre representar a população de forma sólida, com propostas viáveis e que, acima de tudo, promovam o bem coletivo. Este fenômeno de “celebridades” se lançando em candidaturas também ignora a importância da educação política, da qual a maioria da população carece, e que poderia ser a chave para criar uma verdadeira mudança. É perigoso acreditar que a popularidade possa substituir o compromisso com o estudo e a compreensão da política.

Outro ponto crucial é a forma como esse “outsiderismo” pode desestabilizar a democracia. Ao se apoiar em figuras de popularidade efêmera, sem raízes profundas na sociedade ou nas necessidades reais do povo, cria-se um vácuo perigoso, onde as promessas vazias ganham força, como ocorreu em várias outras experiências políticas ao redor do mundo. Países que viram ascender líderes sem nenhuma experiência política, mas com uma retórica inflamada, viram suas democracias enfraquecerem diante da banalização das questões mais complexas. 

Por fim, é vital que a sociedade se atente ao perigo que representa esse tipo de ascensão de “outsiders”. A política precisa de pessoas preparadas, com uma visão clara do futuro e com a capacidade de atuar no dia a dia da governança. A popularidade não deve ser confundida com competência, e a democracia precisa de mais do que celebridades que sabem usar o microfone e as redes sociais para se destacar.

O Brasil, que vive um momento delicado de polarização e desconfiança nas instituições, precisa de políticos com história, com compromisso e, principalmente, com uma visão que vá além do espetáculo. E que saibamos, como sociedade, fazer essa distinção antes que seja tarde demais.

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