Paola Oliveira
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Paola Oliveira


Heleninha Roitman entrou em Vale Tudo com um propósito claro: recuperar a relação com o filho, superando o alcoolismo e reconstruindo sua vida familiar. A comoção era legítima: a mãe ferida, culpada e vulnerável, lutando contra seus fantasmas para se reaproximar da criança. Tudo parecia apontar para um arco dramático tocante, que emocionaria o público e traria densidade à personagem. Mas bastaram poucos capítulos para essa promessa ser solenemente esquecida, como quem perde o filho num supermercado e simplesmente segue para a praça de alimentação atrás de um macho.

Hoje, Heleninha parece ter sofrido uma mutação narrativa: de mãe em redenção para amiga dependente do Ivan e coadjuvante das angústias da Raquel. O filho, coitado, virou um detalhe irrelevante, que o roteiro nem se dá ao trabalho de lembrar. Fica a impressão incômoda de que o “problema” da maternidade que, inicialmente, era o motor emocional da personagem, foi descartado sem cerimônia, como uma garrafa de bebida vazia, o que é especialmente irônico, dado o histórico da personagem.

Esse abandono narrativo não é só uma escolha questionável, mas um erro que o público sente na pele. Quem acompanhou o começo da trajetória de Heleninha não consegue acreditar na rapidez com que a maternidade sumiu do mapa. A personagem perdeu profundidade e credibilidade, virando praticamente uma “socialite em crise existencial” que circula pelos núcleos como quem vai a um coquetel, sem nunca mais mencionar aquele que deveria ser sua prioridade: o próprio filho.

Claro, ninguém aqui está pedindo que Heleninha se transforme numa versão carioca da “Mãe Coragem”, mas um mínimo de coerência faria bem ao roteiro. A novela tinha ali um dos pontos mais sensíveis da sua trama, mas preferiu abandonar o drama familiar para jogar a personagem em outras frentes, nem sempre tão relevantes ou bem exploradas. A sensação é de que Heleninha virou um satélite girando em torno de outros personagens, sem ter mais um núcleo próprio.

Em tempos em que o público cobra representações mais honestas e complexas das relações familiares, Vale Tudo entrega, nesse caso, uma caricatura capenga. A impressão é de que Heleninha não largou só a bebida, largou também o filho, e o roteiro fez o mesmo. Uma pena: começou como promessa de redenção, virou figura decorativa. Fica a pergunta: será que alguém, dentro ou fora da novela, ainda lembra que ela é mãe?

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