Brettas
Tomaz Silva/Agência Brasil
Brettas


O caso de Marcelo Bretas, o ex-juiz símbolo da Lava Jato no Rio de Janeiro, é mais um tijolo na construção do templo da hipocrisia judicial brasileira. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) reconheceu que Bretas cometeu uma série de ilegalidades, abusou de sua autoridade, negociou politicamente sentenças e corrompeu a função que deveria honrar. Lembro quando, pelo Domingo Espetacular, da Record, entrei no gabinete do Juiz para uma conversa. Naquela sala, naquele ambiente, já deu para sentir o esquema. Corrupção fede. É impossível não sentir o cheiro no ar. Naquela ocasião, era apenas uma visita para fazer fonte frente aos processos que a Lava Jato instaurava. 

No final, após toda lambança comprovada, o que o Estado fez com ele? Aposentou-o compulsoriamente. Transformou um corruptor do Judiciário em um aposentado de luxo, com vencimentos garantidos e privilégios vitalícios. Essa aberração institucional não é apenas uma falha do sistema: é a consagração da impunidade. E ela foi feita por pessoas que presumiam a necessidade da impunidade.


Em qualquer outro setor, o destino seria outro. Um trabalhador que frauda ou age de má-fé é demitido por justa causa, perde benefícios e carrega a mácula na ficha. Um policial que corrompe ou mata inocentes é exonerado e, muitas vezes, preso. Um político flagrado em corrupção é cassado, perde direitos políticos e vira símbolo de vergonha. Mas no Judiciário, os deuses são diferentes: erram, cometem crimes e saem premiados com a “pena” mais benevolente possível: a aposentadoria compulsória. Esse é o maior escândalo silencioso do Brasil: a blindagem que transforma crimes de toga em aposentadorias polpudas.

É por isso que juízes se sentem deuses: não da justiça, mas da impunidade. Sabem que podem rasgar a Constituição, destruir reputações, negociar sentenças, e no máximo sairão do cargo com uma aposentadoria assegurada. E ainda terão os salamaleques de quem teme contrariar essa casta. A aposentadoria compulsória não é punição, é um prêmio. Uma recompensa pela traição ao dever, pela profanação da justiça, pela corrosão da ética. A sociedade paga o salário e, depois, paga o silêncio. Esse sistema é uma afronta ao conceito de República.

Fica a pergunta incômoda: como se sente o juiz honesto, aquele que dedicou a vida à integridade, vendo colegas serem apanhados em corrupção e ainda assim saírem beneficiados? Esse modelo institucional não promove a justiça: promove o cinismo. Ensina que, quanto mais alto você está, menos consequências terá. Mas talvez já estejamos anestesiados demais para perceber. Não é fácil ser brasileiro. Que sirva, ao menos, para uma reflexão amarga: quando juízes se tornam intocáveis, a justiça deixa de ser um valor e passa a ser uma farsa. E nós, sociedade, viramos cúmplices desse teatro grotesco.

    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!