Alexandre Frota
Reproduçao TV Globo
Alexandre Frota


A televisão brasileira, especialmente sua teledramaturgia, sempre foi terreno fértil para o talento, o domínio técnico e a entrega real. Mas nos últimos anos, esse solo vem sendo erodido por uma onda de nomes escolhidos mais por influência digital do que por competência artística. Em meio a esse cenário, a reaproximação de Alexandre Frota com o grande público, marcada por sua participação no “Domingão com Huck”, surge como um raro e necessário gesto de valorização da experiência, e de tudo o que realmente sustenta uma boa atuação. Frota não é só um ator da antiga geração: é um profissional que conhece os bastidores da televisão como poucos, inclusive como diretor. E isso faz diferença. Muita.

Enquanto a Globo despeja milhões em influencers que mal compreendem a linguagem do audiovisual e chegam cheios de exigências, mas vazios de preparo, talentos históricos seguem à margem, com uma bagagem que poderia elevar qualquer produção. Entregar papéis importantes a quem não sabe o que fazer com eles é empobrecer a dramaturgia e desrespeitar o público.

Alexandre Frota não está atrás de uma reinvenção marqueteira. O que ele busca é um espaço coerente com o que construiu e o que ainda pode construir. Seu histórico como ator e diretor o posiciona muito além do que costumamos ver hoje em dia, onde a fama prévia justifica o convite e a atuação se resolve na pós-produção. Há uma distância enorme entre saber se comunicar e saber interpretar. E esse abismo vem se tornando visível demais nas telas. 

Luciano Huck, ao recebê-lo com respeito, abriu uma janela simbólica. Foi um encontro entre dois profissionais que sabem que a TV, para continuar relevante, precisa se levar a sério. Huck demonstrou humildade ao ceder espaço a alguém que já foi protagonista de grandes produções no horário nobre da TV Globo, e que faz parte dessa história. Frota, por sua vez, mostrou que ainda tem fôlego, consciência cênica e vontade de entregar mais. E, principalmente, que carrega o tipo de repertório que se aprende vivendo e não viralizando.

Teledramaturgia é um ofício. Um corpo técnico. Uma arte. E ela só sobrevive se for tratada como tal. Não é sobre dar palco a nomes do passado, é sobre garantir futuro para a televisão como linguagem artística. Alexandre Frota é, sim, uma peça importante nesse processo. Porque qualidade não sai de graça, mas custa bem menos do que insistir no erro. Espero que depois deste retorno à TV Globo, que custou 25 anos, ele receba um novo convite à altura do que entrega nos palcos.

    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!