
No lugar onde a história da arte brasileira repousa em silêncio, Marieta Severo decidiu agir. Em dezembro, a atriz transformou ruínas em moradias, tristeza em aconchego. Com recursos próprios e o apoio do arquiteto Marcelo Caruso, ela doou materiais e viabilizou a construção de três novas casas no Retiro dos Artistas, no Rio. Não são apenas paredes... São gestos que devolvem identidade e pertencimento a quem já foi luz e, por descuido coletivo, caiu na sombra.
A casa antiga, deteriorada e esquecida, foi demolida. No lugar, surgiram três lares completos: micro-ondas, fogão, ar-condicionado, armários, acolhimento. “Recuperamos o espaço e a dignidade de três artistas”, disse Marieta. A frase é simples, mas o impacto é imenso: ela não entregou apenas chaves, entregou respeito. Um tipo de amor que não pede aplauso, mas ensina com firmeza e doçura o que significa não abandonar quem nos ensinou a sonhar.
O Retiro, fundado em 1918, abriga artistas que construíram parte da alma cultural do Brasil: atores, músicos, técnicos, criadores que hoje enfrentam a velhice sem o amparo que merecem. São talentos que um dia emocionaram multidões e hoje vivem discretamente, quase invisíveis. Marieta se recusa a aceitar essa injustiça. E ao reconstruir essas casas, reconstrói também um pacto moral com o passado e com a cultura.
Este gesto deveria ser manchete todos os dias. Porque ele não é caridade: é reparação. É uma lembrança corajosa de que dignidade não pode ser privilégio dos que ainda estão sob os holofotes. Marieta, com sua generosidade implacável, transforma indignação em ação. Sua sensibilidade, aqui, é resistência: contra o esquecimento, contra o descaso, contra a indiferença.
Que seu exemplo inspire atores, políticos, empresários e cidadãos comuns. Que entendamos, de uma vez por todas, que memória também se protege com concreto, tinta, eletrodomésticos e, acima de tudo, com compaixão. Porque quem um dia nos fez rir, chorar e pensar merece, ao fim, um teto com silêncio doce, e não o abandono.