
Heleninha Roitman, frágil e impulsiva, não tem apenas problemas com a bebida nessa versão. Ela é, exageradamente, acima de tudo, uma especialista involuntária em uma prática emocional perigosa: o 'love bombing'. E, apesar de sua frieza calculista e sua moral duvidosa, desta vez é Odete Roitman quem enxerga com exatidão o que está acontecendo: a filha está bombardeando Ivan de atenção, declarações e afeto desmedido. Mas isso não é prova de amor: é desespero afetivo.
No universo da novela Vale Tudo, onde todos parecem ter um preço, o amor também se torna transação. E Heleninha, ao cercar Ivan com intensidade emocional precoce, tenta garantir não um parceiro, mas um refúgio, alguém que preencha seus vazios sem questionar sua instabilidade. O problema é que, como toda tática de 'love bombing', essa dinâmica é insustentável, pois Ivan não é amado. Não que merecesse também...
O 'love bombing' funciona assim: no começo, tudo parece um conto de fadas, ligações constantes, promessas de futuro, elogios que beiram a idolatria. Mas, com o tempo, a maré vira. Quando Ivan não corresponde à altura da carência de Heleninha, ela oscila entre o amor exaltado e o ressentimento venenoso. Vai até de encontro a ex-namorada de Ivan, Raquel. Trata-se de um ciclo emocional exaustivo que tem mais a ver com controle do que com afeto genuíno.
Odete, com sua visão cirúrgica (e cruel) das relações humanas, chama a filha de manipuladora. Embora sua falta de empatia seja notória, dessa vez a crítica é certeira. O amor de Heleninha não é sustentável porque parte da urgência de quem quer ser salva, não de quem está pronta para amar. Ela não quer um companheiro, quer um fiador emocional. E isso, invariavelmente, implode com brigas, vaidades, mentiras, trocas de acusações e até extremos.
O caso de Heleninha e Ivan é emblemático porque expõe, em rede nacional e dentro da dramaturgia, um padrão relacional ainda muito romantizado. Mas a verdade é que amor que se impõe com urgência, que se alimenta da idealização e da dependência, não é amor. Até nas relações mais intensas, vale desconfiar do amor que chega como explosão. Porque quem ama de verdade não tenta dominar: acompanha, respeita e constrói.