
Fazia tempo que eu não via uma cena que me deixasse fisicamente mal. Uma senhora no chão. Uma mulher idosa, caída, vulnerável, tentando proteger o pouco que tem. E, do outro lado, um bando de homens fardados, armados, pagos com dinheiro público, chutando, agredindo, humilhando, esmagando qualquer traço de humanidade que ainda pudesse existir naquela cena. O chute no carrinho, aquele pedaço de metal voando na direção do rosto dela, não foi acidente. Foi sadismo desautorizado. Foi crueldade. Foi a certeza da impunidade escorrendo pelas botas da tortura.
E não me venham com conversa fiada de “erro operacional”, de “excesso”. Isso não é erro. Isso não é excesso. Isso é método. Isso é política. É o Estado decidindo que quem nasce na parte errada da cidade, quem sobrevive como pode, não merece sequer ser tratado como ser humano. É isso. É sobre isso. É sobre esmagar, moer, destruir, até que a pessoa vire só uma estatística, ou nem isso.
É revoltante, é nojento, é criminoso. O que aqueles policiais fizeram não é só uma vergonha para a instituição. É uma vergonha para qualquer um que ainda acredite que existe algum limite ético, moral ou minimamente civilizado nesse aparato de segurança pública. A pergunta é simples e direta: que tipo de monstro olha para uma senhora no chão e acha que faz sentido chutá-la, arrancar dela um carrinho velho, um pedaço da própria sobrevivência? Que tipo de ser humano?
E que ninguém se engane: esses homens são produto direto de um governo que escolheu transformar violência em política pública. Que escolheu tratar a pobreza como caso de polícia. Que investe em armamento, em viatura, em tropa de choque, mas vira as costas para quem tenta, minimamente, sobreviver. A cena dessa senhora no chão não é uma exceção. É regra. É rotina. É protocolo não escrito, mas aplicado todos os dias nas ruas desse estado.
Esses policiais não são agentes da lei. São agentes da barbárie. Gente que não deveria ter o menor direito de conviver em sociedade, quanto mais representá-la. Gente que deveria estar fora da rua, fora da farda, fora do convívio com qualquer pessoa minimamente decente. Isso não pode, não deve e não vai ser normalizado. Isso tem que ser tratado como o que é: um crime contra qualquer traço de humanidade que ainda nos resta.