Leilane é vítima de intolerância e discurso de ódio na rua
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Leilane é vítima de intolerância e discurso de ódio na rua

Hoje em dia, xingar um jornalista na rua por ele pertencer a um determinado veículo de comunicação é tão absurdo quanto agredir um ator por causa do personagem na televisão. A crítica cega, a raiva generalizada, a intolerância que ultrapassa os limites da convivência civilizada, tudo isso revela uma sociedade adoecida, incapaz de separar ofício e identidade. Foi exatamente isso que viveu a jornalista da Globo, Leilaine Neubarth. Profissional competente, colega admirada e, além disso, mãe do Bernardo, um jovem de caráter ímpar. E é por esse lado que devemos olhar: o humano, o que existe para além da vinheta, do crachá, da emissora. Aquela mulher não atacou uma instituição; atacou uma pessoa. Usou do mais baixo nível: "lixo".

O episódio, que se passou dentro de uma loja, foi um retrato cruel do tempo em que vivemos. Leilaine estava ali como qualquer cidadão: comprando, cuidando da própria vida. Mas teve sua dignidade invadida por alguém que, em nome de uma opinião sobre a TV Globo, achou justo despejar ofensas contra uma mulher que, para além de jornalista, é uma cidadã, uma mãe, uma profissional que merece respeito. E muito respeito. A fúria desgovernada da cliente não se dirigiu a uma reportagem, nem a uma decisão editorial. Se voltou contra a carne, contra o rosto, contra a presença humana de quem apenas faz o seu trabalho com honestidade.

É preciso dizer, com todas as letras, que isso não é liberdade de expressão é crime. A jornalista se viu diante de uma psicopata sem controle, desgovernada. Há leis que protegem cidadãos contra hostilidade pública, injúria e constrangimento ilegal. A mulher que gritou e achou que humilhava Leilaine precisa responder legalmente pelo que fez, não apenas para que se faça justiça nesse caso, mas para que sirva de alerta a todos que se sentem autorizados a transformar suas frustrações em linchamento verbal. O que essa louca fez foi atacar todos os jornalistas deste país, inclusive aqueles que ela mesma talvez admire, sem sequer se dar conta disso.

A sociedade brasileira precisa reaprender a conviver com a divergência. O jornalismo, por essência, pode ser criticado, questionado, debatido. Mas jamais os profissionais que o exercem devem ser tratados como extensões de logomarcas. Leilaine não é a Globo. Assim como o repórter da Record não é a Record. O cinegrafista do SBT não é o SBT. Eles são indivíduos, trabalhadores, pessoas com história, com filhos, com famílias. Reduzi-los a símbolos de desagrado coletivo é preguiça intelectual e covardia moral.

No fundo, o que vimos nesse episódio não é novo, mas é sintomático. Uma sociedade que se alimenta do ódio e da simplificação perde a capacidade de reconhecer o outro. E quando isso acontece, abre-se espaço para a violência simbólica e real. Por isso, este texto não é apenas um ato de solidariedade a uma colega querida. É um grito por civilidade. E um chamado urgente à responsabilização: quem ataca jornalistas na rua não está atacando apenas uma pessoa. Está atacando a democracia.

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