
Há histórias que parecem nascidas de um devaneio coletivo. E então vem Chulipa, um personagem cuja existência talvez o próprio Nelson Rodrigues considerasse exagerada, para nos lembrar que o Brasil não tem mais filtro entre o que é vida privada e entretenimento público. Ele surge dizendo que perdeu "o cabaço" com Carlinhos Maia e, num passe de mágica, a conversa vira crônica nacional, devidamente registrada pela imprensa como a 'toba' do ano.
O curioso é que ninguém parece realmente surpreso. O País que já transformou traições em dossiês e barracos em patrimônio cultural agora trata confissões íntimas, entre 'tobas e cabaços' como atos de cidadania. Chulipa não apenas contou: ele fez da própria iniciação um manifesto emocional, um relato com nuances de drama, comédia e reality. E, claro, o público, que se alimenta de narrativas humanas, converteu o constrangimento em conteúdo com tamanha naturalidade.
Carlinhos Maia, por sua vez, segue no papel de protagonista involuntário da tragicomédia brasileira: um homem que já fez do cotidiano um espetáculo e agora é surpreendido por mais uma cena não autorizada. Ele nega, explica, desconversa, e a internet sempre generosa com julgamentos instantâneos assume o papel de tribunal moral. É o novo teatro das redes: o público julga, a imprensa narra, e os envolvidos se alternam entre vítimas e vilões de um enredo que ninguém escreveu, mas todo mundo assiste.
Na minha humilde opinião, o caso de Chulipa é menos sobre sexo e mais sobre a sintonia com o espírito da época. Vivemos dias em que a confissão é o novo marketing, a vulnerabilidade é capital simbólico e a vergonha é apenas uma moeda de troca para quinze minutos de relevância. Há pouco tempo, esses quinze minutos eram usados por golpistas ávidos pelo obtenção de um selo azul. Hoje, não mais. Chulipa talvez não saiba, mas prestou um serviço antropológico: mostrou que, entre a exposição e o esquecimento, o brasileiro sempre escolherá o primeiro. Basta ter um celular e um Wi-Fi que a toba entra sem pena.
Fechamos a semana com a toba e o cabaço, com a mesma naturalidade com que tomamos um café. E, na moral... Talvez o Brasil nem precise de roteiristas geniais. Ele só precisa de personagens espontâneos, uma boa conexão de internet, e a certeza de que, por aqui, a vida real sempre será a melhor comédia do horário nobre.
