A guerra pelos holofotes nos bastidores da televisão não se resume somente a vida dos famosos artistas. A briga no circuito pelas autorias das novelas já teve enredos dignos das melhores tramas. Este colunista conversou com três autores de novelas, dois que já não fazem mais parte da emissora, e outro que ainda segue contratado. Entre eles um ponto cruzado: a disputa que realizavam pelo horário nobre junto ao novelista Silvio de Abreu, e o que começaria a acontecer com alguns dramaturgos após a efetivação de Silvio ao cargo de diretor geral de dramaturgia.
Um dos mais prejudicados nesta batalha, segundo eles, teria sido o novelista Gilberto Braga, que morreu após anos tentando voltar ao ar durante a gestão de Silvio. Mesmo doente, Gilberto continuava enviando sinopses e seguindo o roteiro de um autor contratado de forma exemplar.
Recentemente, de acordo com o Site Na Telinha, o colunista Silvio Cerceau revelou que Gilberto Braga deixou três obras prontas na Globo. As três foram totalmente escritas e estão hoje nas mãos do setor de dramaturgia da emissora. São duas novelas e uma série.
Segundo fontes deste colunista, a emissora ficou sabendo apenas depois da demissão de Silvio de Abreu e ficou curiosa para saber o motivo das tramas nunca terem ido ao ar. As sinopses, inclusive, já haviam sido todas aprovadas pela cúpula. A primeira trama seria para o horário das 23h, chamada Intolerância, uma adaptação da novela Brilhante. A outra novela seria Feira das Vaidades, uma novela de época para às 18h. Já a série foi escrita em cima da biografia de Elis Regina e encomendada na época a Gilberto Braga pelo diretor Denis Carvalho.
Confusão nos bastidores
De acordo com os três novelistas escutados, a briga entre Silvio de Abreu e Gilberto Braga teria ocorrido em 2015, quando Gilberto colocava no ar Babilônia, e Silvio de Abreu exercia já o cargo na direção de dramaturgia. Gilberto estaria naquela época reclamando diariamente que Silvio estaria alterando demais os textos da trama, enquanto o diretor alegaria que a trama não estaria com bom índice de audiência.
Pelos bastidores, muitos testemunhavam Gilberto Braga reclamando que, sem a sua autorização, as incoerências e desalinhos da trama ocorreriam por causa de Silvio, e que sempre era surpreendido pelas alterações quando assistia a novela no ar.
O mesmo problema também teria começado a acontecer, mas desta vez com Manoel Carlos, durante a novela Em Família. Logo depois as queixas começaram em A Lei do Amor, de Maria Adelaide Amaral. A confusão se formou por completo quando o mesmo problema aconteceu em o Velho Chico, de Benedito Ruy Barbosa. Na época, Benedito teria dito que não aceitaria esse tipo de coisa e alguns autores se juntaram e levaram a queixa à cúpula da emissora.
Os três autores que a coluna conversou disseram que após as denúncias chegarem ao diretor Silvio de Abreu, apesar de aprovar a trama dos novelistas, o mesmo começaria a colocar a trama dos colegas em lista de espera. Isso teria, segundo eles, afetado principalmente Glória Peres, que ficou anos fora do ar antes de conseguir retornar com Travessia, após a saída de Silvio de Abreu da emissora. Teria sido de Silvio a ordem para retirar Glória da autoria das novelas e alocar a novelista como chefe de minisséries na Globo.
Neste capítulo, uma grande confusão teria marcado a saída de Glória Peres da chefia das minisséries. O real motivo teria girado em torno da série 'Bom dia Verônica'. A série teria sido apresentada à Globo e autorizada pela Glória, que exercia justamento o cargo de chefia daquele núcleo. Mas Silvio teria vetado a obra após aprovação de Glória. O resultado: a obra foi vendida para a Netflix e virou sucesso internacional. Na época, a culpa teria sido jogada em Glória, que acabou deixando o cargo. Temerosa pela gestão da direção geral de dramaturgia, a novelista teria ficado calada ne época, e não teria contado a ninguém que a obra havia sido aprovada por ela e barrada pela executiva Monica Albuquerque e Silvio de Abreu.
A Globo chegou a olhar durante a gestão de Silvio de Abreu para a obra de época escrita por Gilberto Braga, mas teria escutado do diretor que o orçamento estaria muito caro para produzir novelas de época, entretanto, teria aprovado e produzido depois Além da Ilusão e Amor Perfeito. A Globo não gostava da demora em relação a exibição das sinopses de Gilberto Braga. Isso porque o novelista tinha a maior folha salarial da época; ele recebia até R$ 2 milhões mensais, mesmo fora do ar.
Queixa dos novos autores
Pouco antes da demissão de Silvio de Abreu, novos autores também passaram a reclamar do veterano por causa das alterações em suas obras. 'Verão 90' e 'O Tempo não Para', por exemplo, teriam o começo reescritas por Silvio de Abreu com a mesma fórmula: um casal que se conhece se afogando no mar. Após mais reclamações a situação teria começado a azedar de vez até a sua demissão.
Demissão no streaming
No streaming, Silvio também não teve muito sucesso em sua primeira empreitada na HBO. De acordo com fontes da plataforma que a coluna conversou, ele teria apresentado um projeto chamado "tele-séries". Este teria sido o promeiro motivo do desentendimento do autor com a plataforma, que teria respondido ao novelista que novela é novela e série é série. Não aceitaram a nomenclatura que Silvio queria lançar no Brasil. Além disso, uma outra briga nos bastidores: o autor estaria querendo exercer na HBO a função de "show runner". Lá fora, uma expressão utilizada para falar do autor que escreve, produz e acompanha tudo nos sets de filmagem. A plataforma também negou que esse cargo fosse implementado e atribuído ao dramaturgo, o que teria gerado outro atrito.
Ainda acordo com essa mesma fonte, dois anos se passaram e o contrato do autor venceu, e optaram por desligá-lo da plataforma. O último a reclamar de alterações no texto e ser demitido logo em seguida (na gestão de Silvio de Abreu na Globo) foi o autor Aguinaldo Silva, após a exibição de O Sétimo Guardião.