A recente apresentação de Anitta no Réveillon de Copacabana gerou controvérsias devido ao uso de expressões de cunho sexual e palavrões durante o show e a internet está fervilhando! Enquanto alguns espectadores expressaram descontentamento, especialmente pela presença de crianças na audiência, outros defenderam a liberdade artística da cantora e classificação etária indicativa.
É importante notar que a música popular, tanto no Brasil quanto internacionalmente, há décadas incorpora expressões explícitas. Nos Estados Unidos, por exemplo, o rap consolidou-se com letras que frequentemente abordam temas sexuais e utilizam linguagem considerada ofensiva. No Brasil, sucessos como “Na Boquinha da Garrafa” fizeram parte da cultura musical, sendo amplamente cantados sem grandes objeções.
A questão torna-se ainda mais paradoxal quando observamos que muitas músicas internacionais com conteúdo explícito são consumidas no país sem que o público compreenda plenamente o significado das letras, devido à barreira linguística. Isso evidencia uma certa hipocrisia ao criticar artistas nacionais por conteúdos semelhantes.
Além disso, a censura seletiva é evidente. Em eventos anteriores, como no Lollapalooza, artistas utilizaram expressões de teor sexual sem gerar a mesma repercussão negativa. Por exemplo, Pabllo Vittar, durante sua apresentação, fez referências explícitas sem que houvesse uma reação proporcional à observada no caso de Anitta. Em determinadoo momento, a atista perguntou quem na platéía gostaria de um sexo oral, por volta das 16h.
É fundamental reconhecer que a arte reflete a sociedade e seus valores. Discutir a moralidade na música é um debate ultrapassado, especialmente quando há uma evidente seletividade nas críticas. A polarização política atual intensifica essas discussões, desviando o foco de questões mais relevantes, como a valorização da diversidade cultural e a liberdade de expressão artística, ou até mesmo a qualidade da produção musical e comercial no país. Mas, não se trata desse senso crítico.
Em vez de censurar ou criticar artistas por expressões que já são parte integrante da cultura musical global, deveríamos promover uma discussão mais ampla sobre educação musical e cultural, permitindo que o público consuma conteúdos de forma consciente e informada. Para ilustrar a presença de conteúdos explícitos em apresentações musicais não faltam casos.
Ainda que muitos critiquem o conteúdo do show de Anitta por considerá-lo inadequado, é fundamental reconhecer que a música é uma manifestação cultural plural e diversa. Se alguém não aprecia o estilo ou a linguagem de determinado artista, tem a liberdade de escolher não consumir. No entanto, tentar impor preferências pessoais ou morais a toda a sociedade é desrespeitar a pluralidade que sustenta a arte e a liberdade de expressão.
Além disso, para criticar qualquer obra artística, é essencial entender o que se consome. Muitos que atacam Anitta pela falta de “qualidade musical” ou pelo uso de palavrões já reproduziram músicas estrangeiras igualmente explícitas, sem qualquer noção do conteúdo. Essa desconexão revela que o problema não é realmente o conteúdo, mas a superficialidade de um debate que finge ser sobre moralidade, enquanto ignora a hipocrisia envolvida.
Por fim, essas críticas refletem menos uma preocupação com o valor artístico e mais uma tentativa de transformar a música em mais um campo de batalha ideológico. A polarização política transforma artistas em alvos fáceis, principalmente os que têm grande visibilidade, como Anitta.
Antes de questionar a música de alguém, é preciso questionar o próprio consumo cultural, e, acima de tudo, compreender que a arte não tem a obrigação de se alinhar a padrões morais ou ideológicos, mas sim de refletir e questionar a sociedade em que está inserida.