As mortes de MC Kevin, no Brasil, e de Liam Payne, na Argentina, ocorreram em circunstâncias similares: ambos caíram de varandas de hotéis após consumirem substâncias ilícitas. No entanto, as respostas judiciais a esses incidentes diferiram significativamente, refletindo abordagens distintas perante situações análogas.
MC Kevin, nome artístico de Kevin Nascimento Bueno, faleceu em maio de 2021 após cair do quinto andar de um hotel na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. A investigação concluiu que sua morte foi acidental, sem evidências de ação criminosa por parte de terceiros. O laudo pericial indicou que Kevin tentou passar de uma varanda para outra, mas perdeu o equilíbrio e caiu. Em julho de 2022, a Justiça do Rio de Janeiro arquivou o caso, acatando a manifestação do Ministério Público que apontava ausência de indícios de conduta dolosa ou culposa por parte de terceiros.
Em contraste, a morte de Liam Payne, ex-integrante da banda One Direction, em outubro de 2024, levou a uma resposta judicial mais rigorosa na Argentina. Payne caiu do terceiro andar do hotel CasaSur, em Buenos Aires, após consumir álcool e cocaína. As autoridades argentinas indiciaram cinco pessoas: Gilda Martin, gerente do hotel, e Esteban Grassi, chefe de recepção, foram acusados de homicídio culposo por negligência ao não garantirem a segurança de Payne; Roger Nores, amigo do cantor , também foi acusado de homicídio culposo por não prestar assistência adequada; e os funcionários do hotel, Braian Paiz e Ezequiel Pereyra, foram acusados de fornecer drogas ao artista .
A autópsia de Payne revelou a presença de álcool, cocaína e um antidepressivo em seu organismo, corroborando a tese de consumo de substâncias antes da queda. A Justiça argentina considerou que houve negligência por parte dos acusados, que, ao não zelarem pela segurança do cantor e ao facilitarem o acesso a drogas, contribuíram para o desfecho fatal .
Essa disparidade nas respostas judiciais levanta questionamentos sobre os critérios adotados em cada país para atribuir responsabilidade em casos de mortes acidentais envolvendo substâncias ilícitas. Enquanto no Brasil a morte de MC Kevin foi tratada como um acidente pessoal, sem responsabilização de terceiros, na Argentina, a morte de Liam Payne resultou em múltiplos indiciamentos, sugerindo uma postura mais proativa na busca por responsabilização. É importante considerar as diferenças nos sistemas jurídicos e culturais de cada país, e também como cada caso ocorreu, fatos esses que influenciam as investigações e decisões judiciais.
No caso de MC Kevin, a ausência de evidências de participação direta de terceiros na queda pode ter sido determinante para o arquivamento. Já na Argentina, a identificação de possíveis negligências por parte de indivíduos próximos à vítima levou a uma abordagem mais rigorosa.
Esses casos ressaltam a complexidade envolvida na apuração de mortes acidentais e o papel das autoridades em determinar responsabilidades. A comparação entre as respostas judiciais no Brasil e na Argentina evidencia como contextos legais e culturais distintos podem influenciar significativamente os desfechos de investigações semelhantes. Vale a reflexão.
Consultado pela coluna, o especialista em segurança e apresentador do Operação de Risco da RedeTV!, Jorge Lordelo, esclareceu alguns pontos indispensáveis para a realização de uma investigação mais criteriosa. Para ele, a conversa também é uma reflexão acerca do preparo e da estrutura da rede hoteleira dando aporte para investigação, até a investigação da logística dos entorpecentes.
Um dos pontos que merece atenção, segundo Lordelo, é a investigação acerca do uso das substâncias ilícitas para uma possível responsabilização. Por exemplo: MC Kevin já estava muito alcoolizado e sob efeito de drogas, e continuaram fornecendo as substâncias assumindo um risco contra sua integridade? Quem comprou, quem levou, quem participou da logística do consumo?
Outro ponto é a segurança do hotel, para que seja avaliado se houve também negligência por parte de terceiros. O quarto foi usado para algum propósito que não fosse hospedagem. Durante toda bagunça nenhum responsável do hotel percebeu os excessos? Ainda foi fornecido mais bebida para o quarto? Quem comprou, quem forneceu? Outro ponto é a falta de imagens no corredor do hotel.
Ainda segundo Lordelo, a discussão passa por uma regulamentação que priorize os protocolos de segurança antes que a tragédia aconteça. E, caso aconteça, que esses protocolos quando bem aplicados forneçam mais dados que possam embasar mais as investigações.