A recente demissão do jornalista Rodrigo Bocardi pela TV Globo, sob a alegação de “descumprir normas éticas do Jornalismo da Globo”, tem gerado desdobramentos jurídicos significativos. Um departamento jurídico está elaborando um memorando e já teria feito o primeiro aceno com a emissora para discutir os termos da saída de Bocardi e outros profissionais. Embora não esteja confirmado se esse departamento representa diretamente o Bocardi, o aceno chegou solicitando "buscar uma resolução extrajudicial antes de considerar uma possível ação judicial."
De acordo com fontes no núcleo de contratos da emissora, o cerne da discussão gira em torno da aplicação do Código de Ética e Conduta do Grupo Globo, que alguns profissionais considerariam subjetivo. O memorando em elaboração destaca que outros jornalistas da emissora teriam cometido infrações semelhantes às atribuídas a Bocardi, mas não foram desligados. O primeiro sinal enviado ao canal levantaria questionamentos sobre a "uniformidade na aplicação das normas éticas dentro da empresa".
Entre os casos mencionados no documento, destaca-se o de Tadeu Schmidt, que, durante sua atuação no “Fantástico”, teria - segundo a acusação - realizado publicidade para uma marca de sabão, o que seria proibido, uma vez que o o contrato que mantinha à época com o “Fantástico” era ainda vinculado ao departamento jornalístico. Além disso, o memorando cita supostos contratos de Sandra Annenberg com a Unibrapp e ligações passadas de Renata Vasconcellos com um banco, além de outros jornalistas, como Carlos Tramontina e Poliana, que teriam realizado conteúdos institucionais para empresas como a Vale, "sem sofrerem sanções semelhantes".
Ainda segundo estas mesmas fontes, outro ponto abordado no memorando é o caso de um jornalista do Jornal Nacional, que teria financiado seu casamento por meio de permutas e publicações com divulgações de inúmeras arrobas no Instagram. Na ocasião, Ali Kamel, diretor da Globo à época, foi acionado e, embora tenha reconhecido a infração, optou por não desligar o profissional, reforçando posteriormente as normas no Código de Ética. Esses episódios geraram descontentamento entre colegas, que perceberam um tratamento diferenciado em situações semelhantes.
O memorando conclui que a subjetividade do Código de Ética permite à Globo "flexibilizar suas regras conforme seus interesses, aplicando-as rigorosamente em alguns casos e sendo leniente em outros". O documento sugere que, se as normas fossem aplicadas de maneira estrita, cerca de 70% dos âncoras poderiam ser desligados. Essa percepção, segundo o próprio parecer, teria levado muitos jornalistas a buscarem migração para o setor de entretenimento, onde as regras seriam menos restritivas.