![Edmilson Edmilson](https://i0.statig.com.br/bancodeimagens/a3/tg/lb/a3tglb5desqh2zzf6ssxqzawd.jpg)
Entre risadas e situações absurdas, o personagem de Érico Bras em Mania de Você reflete, com leveza, um comportamento masculino profundamente enraizado – aquele que transforma a vida de muitas mulheres em um campo minado de expectativas, controle e desconsideração.
Há na comédia um poder subversivo: ela embala, em risos e exageros, verdades que seriam demasiado ásperas se ditas em tom grave. O personagem de Érico Bras, em Mania de Você, é o retrato burlesco do homem que exige sem oferecer, que cobra sem corresponder, que se julga credor de uma devoção que jamais pretende retribuir. Sua performance hilária mascara, sob a tinta do humor, um traço tão comum quanto corrosivo nas relações entre homens e mulheres.
Esse arquétipo, travestido de graça, é a versão cênica de um perfil masculino que transita com desenvoltura no cotidiano. Ele invade conversas, interrompe raciocínios alheios com a certeza absoluta de sua superioridade nata, reivindica afeto sem jamais se preocupar em merecê-lo. Como um equilibrista desajeitado, caminha na tênue linha entre o egocentrismo e a insegurança, oscilando entre a necessidade de ser admirado e o medo atávico de se ver confrontado.
O humor de Mania de Você nos permite rir desse homem, assim como também junto ao personagem de Eriberto Leão, o Robson. Ambos na vida real cobrariam um preço alto por sua onipresença. Se na ficção ele é motivo de escárnio, na realidade ele se torna um peso invisível que muitas mulheres carregam. São os parceiros que delegam às esposas a administração da casa enquanto se autointitulam “ajudantes”, os namorados que exigem compreensão infinita para suas falhas, mas oferecem frieza ao menor deslize da companheira.
O brilhantismo da atuação de Brás reside justamente na sofisticação dessa denúncia disfarçada de comédia. Ele encarna um tipo que, se visto isoladamente, pareceria apenas ridículo, mas que, multiplicado aos milhões, revela-se um problema estrutural. E é nessa multiplicação que reside a tragédia: o que poderia ser apenas uma caricatura divertida é, na verdade, uma realidade amarga para incontáveis mulheres, obrigadas a gerenciar emoções que não são suas, a suportar omissões, a moldar-se a expectativas que nunca as contemplam.
Rimos, sim, porque rir é um alívio. Mas que esse riso não nos distraia do essencial: o que nos parece patético na ficção é, na realidade, uma engrenagem cruel do cotidiano. É isso que o autor busca mostrar. E a grande ironia é que, enquanto a plateia se diverte, muitas mulheres, do outro lado da tela, apenas reconhecem o fardo que já carregam.