Alessandro Lo-Bianco

Joana Prado e Vitor Belfort: O discurso terrível da intolerância

Enquanto a fé vira instrumento de exclusão e desrespeito às diferentes crenças, a sociedade continuará gritando

Vitor Belfort e Joana Prado
Foto: Reprodução Instagram
Vitor Belfort e Joana Prado


No cenário atual, onde a diversidade cultural e religiosa deveria ser celebrada como uma riqueza nacional, nos deparamos com manifestações que evocam preconceitos arcaicos e fomentam a intolerância. As recentes declarações de Joana Prado e Vitor Belfort, associando o Carnaval a “invocações de demônios” e desqualificando práticas religiosas de matriz africana, são exemplos claros desse retrocesso.

Historicamente, o Brasil sempre foi um caldeirão cultural, resultado da confluência de diversas etnias e crenças. O Carnaval, em particular, é uma expressão máxima dessa miscigenação, incorporando elementos festivos, religiosos e culturais de diferentes origens. Ao afirmar que a festa “envolve muito a cultura da macumba” e “uma cultura espírita” , o casal não apenas demonstra desconhecimento cultural e histórico, mas também reforça estigmas que há séculos marginalizam religiões afro-brasileiras.

A Constituição Federal de 1988 assegura a liberdade religiosa e protege os locais de culto . No entanto, discursos como os de Joana e Vitor evidenciam que, apesar dos avanços legais, a intolerância persiste enraizada em parcelas da sociedade. Quando um templo é destruído por intolerantes, ou pessoas são perseguidas, tudo passa pela consequência do discurso do casal. Tais manifestações não podem ser encaradas como meras opiniões pessoais, pois carregam consigo o potencial de incitar discriminação e violência contra comunidades já vulnerabilizadas.

É paradoxal que indivíduos que outrora participaram ativamente do Carnaval, como Joana Prado, que desfilou na Sapucaí em 2000 pelo Salgueiro , agora se posicionem de maneira tão veemente contra a festividade. Essa mudança de perspectiva, embora pessoal, não justifica a propagação de discursos que desrespeitam e atacam outras crenças. A liberdade de expressão é um direito fundamental, mas encontra limites quando utilizada para disseminar ódio e preconceito.

Em resposta às críticas recebidas, Joana Prado declarou sentir “preguiça” das acusações de intolerância religiosa . No entanto, é a sociedade que manifesta exaustão diante de discursos retrógrados que perpetuam a divisão e o ódio. É imperativo que figuras públicas compreendam a responsabilidade de suas palavras e ações, promovendo o respeito mútuo e a convivência pacífica entre as diversas manifestações culturais e religiosas que enriquecem o tecido social brasileiro.

Em suma, é necessário que, como sociedade, repudiemos veementemente qualquer forma de intolerância religiosa. A pluralidade de crenças e culturas é um patrimônio inestimável do Brasil, e sua preservação depende do compromisso coletivo com o respeito e a empatia. Somente assim poderemos construir uma nação verdadeiramente inclusiva e justa para todos.