
Bruna, há coisas na vida que, uma vez perdidas, raramente são recuperadas. Entre elas, a dignidade ocupa um lugar sagrado. Ela não aceita parcelamentos, não pode ser adquirida em boutiques de luxo e, sobretudo, não se submete a cotações de mercado. No seu caso, a pergunta que ecoa não é sobre o preço da sua tolerância, mas sobre o exato momento em que você perdeu a si mesma – e nunca mais se encontrou.
Porque há traições que não são apenas deslealdades conjugais. São ultrajes à inteligência, à autoestima, à essência de quem somos. No entanto, enquanto os olhos do mundo acompanham, estarrecidos, o teatro de infidelidades e reconciliações, você segue equilibrando-se sobre os cifrões de um compromisso que já ruiu incontáveis vezes. Até que ponto um contrato socialmente aceito e financeiramente vantajoso cercado de fama internacional pode justificar o desmoronamento interno de uma mulher que um dia, talvez, sonhou com o respeito e a lealdade?
A liberdade, Bruna, não está em suportar a humilhação em nome de uma estabilidade ilusória, mas em compreender que nenhuma estabilidade vale a corrosão do amor-próprio. Há mulheres que, ao se depararem com a infidelidade, impõem limites inegociáveis; outras, por razões que apenas elas podem justificar, permanecem na dança insana entre o perdão e a resignação. Mas há um preço invisível nessa escolha: a erosão da própria identidade, a transformação gradual de uma mulher em mera sombra do que poderia ter sido.
Nenhuma conta bancária transborda o suficiente para preencher o vazio que se instala quando se renuncia ao respeito próprio. E nenhuma justificativa, por mais elaborada que seja, pode camuflar o fato inescapável de que aceitar o inaceitável é o primeiro passo para a completa anulação de si mesma. Então, Bruna, se ainda restar em você um fragmento da mulher que um dia teve sonhos próprios, talvez seja hora de fazer a pergunta mais importante: onde foi que você perdeu a sua dignidade? E, sobretudo, será que ainda há tempo para encontrá-la?