Alessandro Lo-Bianco

A aula que Jojo Todynho faltou

O socialismo não quer banir o iPhone. Pelo contrário: quer que todo trabalhador, com mais igualdade de renda, também possa comprar um

Jojo Todynho compra mansão no Rio e comemora nova fase da vida
Foto: Reprodução
Jojo Todynho compra mansão no Rio e comemora nova fase da vida


No Brasil, virou moda usar o socialismo como piada pronta. E quando figuras públicas com milhões de seguidores repetem clichês rasos, é preciso intervir — não com gritaria, mas com informação. Recentemente, a cantora Jojo Todynho declarou em um podcast que não entende como alguém pode se dizer socialista e usar um iPhone. A fala, que parece inofensiva num primeiro momento, revela na verdade um desconhecimento profundo do que é o socialismo e para que ele serve. O problema não é a dúvida em si, mas a convicção com que se propaga uma ideia equivocada.

Vamos começar com o básico. O socialismo, enquanto ideologia política e econômica, não é uma doutrina contra o consumo ou contra a tecnologia. Pelo contrário: ele questiona a forma desigual com que os bens são produzidos e distribuídos. Quando um socialista usa um iPhone, ele não está sendo hipócrita — ele está justamente inserido numa sociedade capitalista que limita o acesso a esses bens a uma minoria. O que o socialismo defende é que o acesso ao que há de melhor — seja um celular, uma educação de qualidade ou um plano de saúde decente — não seja privilégio de poucos, mas direito de todos.

É curioso que a crítica venha, muitas vezes, por ela desejar o melhor para todos. Quer dizer então que lutar por justiça social implica viver na escassez? Que ser socialista é ter que andar com um celular quebrado, morar mal, vestir roupa rasgada? Isso não é socialismo, isso é a caricatura que se tenta impor para desqualificar a luta por igualdade. A utopia socialista, se é que podemos chamá-la assim, não é uma sociedade onde ninguém tem um iPhone — mas uma sociedade onde todo trabalhador possa comprar o seu iPhone se quiser, com seu salário digno, sem precisar se endividar ou abrir mão de necessidades básicas.

Essa falácia de que socialistas não podem consumir produtos de marca revela um reducionismo típico de quem nunca parou para estudar a história dos movimentos sociais. Karl Marx jamais escreveu que o problema era o iPhone. O problema está na lógica de exploração que concentra riqueza em uma ponta e precariza a vida na outra. O iPhone, neste caso, é só um símbolo — do luxo para poucos e da exclusão para muitos. A luta não é para que ninguém tenha, mas para que todos possam ter, se quiserem.

É nesse ponto que a crítica à fala da Jojo precisa ser feita com firmeza. Não se trata apenas de uma opinião mal colocada, mas de um desserviço ao debate público. Quando uma celebridade afirma que ser socialista é incompatível com o uso de um iPhone, ela contribui para a desinformação e reforça estereótipos perigosos. Pior: ela sugere que lutar por igualdade significa abrir mão da dignidade, quando, na verdade, significa exatamente o contrário.

Talvez Jojo tenha mesmo faltado à aula de sociologia. Talvez nunca tenha lido sobre Rosa Luxemburgo, Paulo Freire ou Florestan Fernandes. Mas nunca é tarde para aprender. O debate político merece mais que memes e frases de efeito. Merece responsabilidade. E, se possível, um pouco de leitura. Menos briga e mais estudo.