
Na noite de ontem, uma cena singela, porém comum nas redações televisivas se tornou poderosa, aconteceu ao vivo na televisão: Jorge Pontual, jornalista experiente e respeitado, perdeu o texto durante uma entrada no ar. O que poderia ter sido um momento de constrangimento, embora nada extraordinário em uma redação, foi habilmente ressignificado pela apresentadora Renata Lopretti, que com um gesto de extrema elegância, encerrou a participação de forma suave, mencionando que “tivemos um probleminha” — dando a entender, inclusive, que poderia se tratar de uma falha técnica. Um ato de cumplicidade profissional, respeito e ética ao lidar com a vulnerabilidade de um colega que a imprensa tradicional entendeu.
No entanto, o cuidado que Renata teve foi brutalmente atropelado nas horas seguintes nas redes sociais se transformando em um espetáculo da exposição sob o pretexto do elogio. Enquanto muitos entenderam o recado e sequer noticiaram, compreendendo o contexto — outros canais de entretenimento escancararam o vídeo, colocaram legendas escarnecendo da situação e viralizaram o momento como se fosse uma falha grotesca, um espetáculo de vergonha alheia que já se tornou em etarismo pelos comentários de quem nunca entrou em uma redação para superar os desafios do hardnews televisivo. A delicadeza de Renata virou cinzas diante da ânsia por engajamento fácil.
Esse contraste escancara a diferença entre quem entende o valor da ética jornalística e quem só sabe capitalizar em cima da fragilidade alheia. O elogio à Renata Loprette não evitou o cancelamento de Jorge Pontual. A televisão, com todos os seus limites e críticas possíveis, ainda ensina sobre companheirismo e responsabilidade ao vivo. Já o universo dos reels e cortes, movido por cliques, não hesita em transformar até mesmo a empatia em produto. E nisso reside a verdadeira falha, não a de Pontual ao esquecer o texto, mas a nossa, como sociedade, ao não proteger quem falha de forma tão humana.
Não é apenas sobre proteger um colega. É sobre o pacto silencioso que sustenta ambientes profissionais saudáveis: a solidariedade no erro, o cuidado na exposição, a proteção da dignidade mesmo nos imprevistos. Renata Lopretti mostrou, ao vivo, que entende esse pacto. Outros, ao transformarem isso em piada travestida de elogio, mostraram o quanto estão distantes da verdadeira comunicação humana.
Que fique o alerta: enquanto houver quem viralize a falha de outro para se promover, estaremos todos mais distantes de uma convivência ética. A atitude de Renata deveria ser reverberada como exemplo de humanidade no jornalismo. Mas foi abafada pela gritaria da crueldade digital. E isso, sim, é o que deveria nos causar vergonha.