
A imagem de Donald Trump, gerada por inteligência artificial e publicada por ele mesmo, vestindo trajes papais, não é apenas um delírio narcisista: é uma provocação calculada e repulsiva. Feita justamente às vésperas de um conclave, a postagem transforma a sucessão papal — um momento de oração e discernimento para a Igreja — em palco de palhaçada política. Não se trata aqui de irreverência ou crítica religiosa; trata-se de uma invasão desrespeitosa de um espaço sagrado por parte de um político que, reiteradamente, se aproveita da ignorância e da iconografia cristã para fins eleitoreiros. Parece alguém que conhecemos por aqui...
O papado, na teologia católica, não é símbolo de poder terreno, mas de serviço, sacrifício e fidelidade ao Evangelho. A figura do Papa, como sucessor de Pedro, carrega um peso espiritual que ultrapassa culturas, línguas e ideologias. Vestir-se, ainda que virtualmente, com os paramentos do pontífice é uma forma grotesca de usurpar uma autoridade que não pertence ao mundo político — e menos ainda a alguém que tem demonstrado absoluto desprezo por princípios cristãos fundamentais como a humildade, o perdão e a compaixão ao próximo.
Trump não é ingênuo. Ao publicar essa imagem justamente agora, tenta capturar a atenção e o apoio de setores ultraconservadores católicos, insinuando-se como herói messiânico em meio ao vácuo espiritual que ele mesmo se encarrega de inflar. Essa manipulação simbólica da fé — algo que beira o sacrílego — revela um projeto de poder onde não há espaço para o sagrado como mistério, apenas como marketing. A cruz, para ele, é um adereço. A tiara papal, um troféu de vaidade.
Mais grave ainda é ver parte da opinião pública relativizando o ato como se fosse uma piada de mau gosto ou um simples meme. Não é. É uma agressão cultural e espiritual contra mais de um bilhão de fiéis. A Igreja pode — e deve — ser criticada quando erra, mas usá-la como figurino para ambições políticas pessoais é outro patamar de degradação moral. É zombar da fé, transformar o que é sagrado em espetáculo, e legitimar a profanação como entretenimento.
É urgente que líderes religiosos, estudiosos e fiéis conscientes se manifestem contra esse tipo de banalização. A história mostra o quão perigosa é a mistura entre culto à personalidade e manipulação religiosa. Quando Trump se veste como Papa, ele não está apenas se promovendo: está tentando reescrever, à força e com sarcasmo, a linguagem da fé. E isso não é só desrespeitoso — é profundamente perigoso.