
A estreia de Dona de Mim, nova novela das sete da Globo, surpreendeu positivamente ao alcançar 20 pontos de audiência — um número robusto nos tempos atuais, em que o hábito de assistir TV aberta vem sendo constantemente desafiado por plataformas sob demanda. O sucesso imediato foi tão expressivo que, em questão de horas, surgiram comparações apressadas com o desempenho de Vale Tudo, o remake da clássica novela das 21h. Como se uma novela precisasse fracassar para que a outra brilhasse. E é justamente aí que pode morar o erro.
É natural que os números da audiência gerem comparações, mas é preguiçoso transformar esses dados em competição. O que está acontecendo, na verdade, é algo que merece ser celebrado: a Globo começa a mostrar sinais claros de recuperação em sua dramaturgia. Após um período instável, em que elencos mornos, textos frágeis e direções apressadas se tornaram comuns, a emissora parece ter decidido retomar com seriedade o investimento em novelas de qualidade, com boas histórias, talentos sólidos e direção afinada.
Reduzir a boa estreia de Dona de Mim a uma crítica velada ao desempenho de Vale Tudo é ignorar que ambas estão, na verdade, jogando no mesmo time — o da tentativa de reconquista do público. O remake da icônica obra de Gilberto Braga pode não ter causado o impacto explosivo que muitos esperavam, mas está longe de ser um fracasso. Sua audiência tem se mantido, e o valor artístico de uma adaptação como essa vai além dos números. Se a novela das sete alcança os mesmos índices da das nove, isso diz menos sobre a fraqueza da segunda e mais sobre a força inesperada da primeira.
O momento é, portanto, de virada. Ver duas novelas com desempenhos sólidos, especialmente em faixas horárias diferentes, é sinal de que a engrenagem global voltou a girar com mais cuidado. Há ali uma tentativa visível de reconquistar o público, tanto pelo afeto nostálgico quanto pela oferta de novas narrativas com pegada contemporânea. E isso não deve ser usado para colocar uma produção contra a outra, mas sim para destacar que a qualidade voltou a ser um ativo estratégico na programação. No fim das contas, o sucesso de Dona de Mim não é uma sentença contra Vale Tudo, mas uma boa notícia para quem ama teledramaturgia.