Alessandro Lo-Bianco

Globo vive momento de retomada com duas boas novelas no ar

Dona de Mim com 20 pts não deve ser lida como fracasso de Vale Tudo, mas sinal de que a emissora tem duas boas obras

Núcleo principal de 'Dona de Mim'
Foto: Foto: LÉO ROSÁRIO/TV GLOBO
Núcleo principal de 'Dona de Mim'


A estreia de Dona de Mim, nova novela das sete da Globo, surpreendeu positivamente ao alcançar 20 pontos de audiência — um número robusto nos tempos atuais, em que o hábito de assistir TV aberta vem sendo constantemente desafiado por plataformas sob demanda. O sucesso imediato foi tão expressivo que, em questão de horas, surgiram comparações apressadas com o desempenho de Vale Tudo, o remake da clássica novela das 21h. Como se uma novela precisasse fracassar para que a outra brilhasse. E é justamente aí que pode morar o erro.

É natural que os números da audiência gerem comparações, mas é preguiçoso transformar esses dados em competição. O que está acontecendo, na verdade, é algo que merece ser celebrado: a Globo começa a mostrar sinais claros de recuperação em sua dramaturgia. Após um período instável, em que elencos mornos, textos frágeis e direções apressadas se tornaram comuns, a emissora parece ter decidido retomar com seriedade o investimento em novelas de qualidade, com boas histórias, talentos sólidos e direção afinada.

Reduzir a boa estreia de Dona de Mim a uma crítica velada ao desempenho de Vale Tudo é ignorar que ambas estão, na verdade, jogando no mesmo time — o da tentativa de reconquista do público. O remake da icônica obra de Gilberto Braga pode não ter causado o impacto explosivo que muitos esperavam, mas está longe de ser um fracasso. Sua audiência tem se mantido, e o valor artístico de uma adaptação como essa vai além dos números. Se a novela das sete alcança os mesmos índices da das nove, isso diz menos sobre a fraqueza da segunda e mais sobre a força inesperada da primeira.

O momento é, portanto, de virada. Ver duas novelas com desempenhos sólidos, especialmente em faixas horárias diferentes, é sinal de que a engrenagem global voltou a girar com mais cuidado. Há ali uma tentativa visível de reconquistar o público, tanto pelo afeto nostálgico quanto pela oferta de novas narrativas com pegada contemporânea. E isso não deve ser usado para colocar uma produção contra a outra, mas sim para destacar que a qualidade voltou a ser um ativo estratégico na programação. No fim das contas, o sucesso de Dona de Mim não é uma sentença contra Vale Tudo, mas uma boa notícia para quem ama teledramaturgia.