Alessandro Lo-Bianco

Grande Rio encolhe e vira palanque de imagens arranhadas

Carnaval algum é capaz de servir como detergente de biografias arranhadas

Virginia
Foto: Reprodução: Instagram/@virginia
Virginia


A Grande Rio, uma das mais emblemáticas escolas de samba do Rio de Janeiro, vai se apequenando a cada ano, transformando-se em mero palanque institucional para figuras públicas que buscam desesperadamente reverter imagens arranhadas na sociedade. Depois do fiasco com Patrícia Poeta, cuja participação no carnaval passado não só falhou em repaginar sua imagem, como expôs ainda mais a tentativa forçada de aproximação com o povo, agora é Virgínia Fonseca quem ocupa o mesmo espaço, seguindo o mesmo roteiro fracassado.

O desfile da Grande Rio, que tradicionalmente deveria exaltar a cultura popular e dar protagonismo às raízes e personagens que verdadeiramente representam a resistência das comunidades, se converte em uma vitrine para quem vive à margem, não da sociedade, mas do julgamento popular e da credibilidade. O carnaval de 2024 já mostrou que não é colocando ricos ao lado de pobres na avenida que se reverte uma imagem pública desgastada. O público não se deixa enganar por cenários artificiais, e a festa não pode ser usada como detergente de biografias.

Virgínia, hoje símbolo máximo de ostentação no Brasil, com um catálogo de presentes que vai de aviões a iates, representa justamente o oposto do que a Grande Rio pretende narrar: a desigualdade crônica do país. As festas e reuniões familiares de Virgínia são de uma megalomania sem propósito, um espetáculo de riqueza desenfreada que não se conecta com a essência do carnaval, nem com as lutas reais das comunidades que a escola diz defender. Transformar a frente da bateria em vitrine para quem ostenta fortuna é, no mínimo, uma contradição gritante.

Em um país onde a desigualdade é marca registrada, soa no mínimo irônico e profundamente ofensivo que uma escola que se propõe a falar das disparidades sociais coloque na linha de frente quem personifica o abismo entre ricos e pobres. A Grande Rio parece não ter aprendido com o erro do ano passado: carnaval algum é capaz de reescrever narrativas pessoais marcadas pela rejeição pública. O desfile não deve servir de palco para reposicionamentos de marketing, mas de celebração genuína da cultura popular, da resistência e da coletividade. Infelizmente, a escola prefere seguir a trilha fácil e vazia do engajamento midiático.