Alessandro Lo-Bianco

A ignorância por herança

Quem censura livros dos filhos precisa ler mais. Nem que seja pra descobrir que a Terra não é plana

A importância da leitura
Foto: Reprodução:Internet
A importância da leitura


Se existe um legado mais perigoso que a ignorância, é a escolha consciente de perpetuá-la. Recentemente, uma personalidade pública declarou que proíbe os próprios filhos de lerem determinados livros indicados pela escola. Sim, isso mesmo que você leu. Em pleno 2025, com a informação batendo na porta, ainda tem quem ache que blindar crianças do conhecimento, mesmo se for para discordar e formar visão crítica, é uma forma válida de educar. E olha que irônico: foi justamente por meio dos livros que, um dia, entendemos que a Terra não é plana. Sim, ela é e sempre foi redonda. 

É preciso dizer com todas as letras que impedir uma criança de ter acesso à literatura indicada da escola é uma das maiores violências intelectuais que um pai pode cometer. E não, não é opinião, é fato. A escola não oferece livros para destruir a família, doutrinar ninguém ou desconstruir valores pessoais. Ela oferece livros para formar cidadãos críticos, pensantes, conscientes de sua história, do mundo e de si mesmos. Negar isso é escolher conscientemente criar filhos despreparados para a vida, reféns de bolhas de ignorância cuidadosamente mantidas pelos próprios responsáveis.


E aqui vai uma aula gratuita porque, sinceramente, cobrar por isso seria antiético demais. A literatura não é apenas um acúmulo de palavras. É uma janela para outros mundos, outras perspectivas, outras realidades. É por meio dela que entendemos o que é empatia, alteridade, diversidade, civilidade e, acima de tudo, liberdade de pensamento. Quem censura livros, censura o desenvolvimento. E sabe quem adorava censurar livros? Regimes totalitários, governos autoritários, movimentos antidemocráticos. Não é coincidência. Nunca foi.

Talvez o medo desse pai, no fundo, não é dos livros. É do que os livros revelam: que seus próprios argumentos, suas crenças engessadas e seus preconceitos rasteiros não se sustentam diante da luz do conhecimento. É desconfortável, eu sei. Porque ler significa, muitas vezes, desconstruir certezas frágeis e encarar a própria ignorância. E talvez seja isso que ele tenta evitar a qualquer custo, mesmo que, para isso, condene os filhos à mesma cegueira intelectual que ele escolheu pra si.

Por fim, fica aqui um conselho, e eu juro que é do fundo do coração: leia. Leia muito. Leia tudo aquilo que você acha que vai “corromper” seus filhos, porque talvez seja exatamente aí que você descubra que o mundo é muito mais complexo, interessante e plural do que sua bolha permite acreditar. E, quem sabe, entre uma página e outra, você finalmente descubra que a Terra é redonda. Tá nos livros. Tá na ciência. Tá no mundo real. Só não tá na ignorância.