
No último domingo, durante o Domingão com Huck, a televisão aberta brasileira presenciou um gesto raro: um comunicador popular utilizando seu espaço para introduzir uma discussão sofisticada e urgente sobre inteligência artificial com a maior tecnologia que a TV possui para ilustrar até onde a IA pode nos levar. Foi impressionante! Com uma apresentação que simulava sua viagem ao espaço, Luciano Huck revelou que tudo, do cenário aos diálogos, fora gerado por IA. Não se tratava de mágica tecnológica gratuita, mas de uma demonstração consciente do poder de simulação que essa ferramenta carrega. O Brasil assistia, em rede nacional, a um experimento midiático cujo propósito maior era educar pelo espanto. E deu certo. Se o céu é o limite, o apresentador foi para o espaço.
O lançamento do Instituto Inteligência Artificial de Verdade (IAV) veio como extensão natural desse gesto. Huck posicionou-se, assim, como um articulador entre a linguagem acessível do entretenimento e a responsabilidade que a IA exige. Em vez de ceder ao deslumbre irrestrito ou ao alarmismo banal, o apresentador propos um meio-termo crítico e necessário: a alfabetização digital como condição básica de cidadania.
O IAV é uma ótima ideia, e merece muito ser cada vez mais fomentada. Sim, porque este novo projeto do apresentador nasce com esse propósito que a gente busca diariamente: combater a desinformação, democratizar o entendimento e tornar o brasileiro médio capaz de distinguir o que é criação algorítmica do que é realidade objetiva.
É preciso reconhecer a sofisticação desse movimento. Não é todo dia que uma liderança televisiva se dispõe a enfrentar, com tamanha clareza, um tema que ainda provoca temor, desconfiança e confusão. Huck não correu ao debate: ele o qualificou. Ao defender que saibamos identificar o que é IA “de verdade” e o que é “de mentira”, ele não apenas alerta. Ele convoca. Convoca educadores, comunicadores, legisladores e cidadãos comuns a ocuparem, com lucidez, esse novo território onde os limites entre o autêntico e o sintético se embaralham perigosamente.
Essa atitude impõe uma ruptura simbólica com o comodismo informacional que ainda predomina. Não basta mais consumir tecnologia; é preciso compreendê-la. Huck deixou claro, indo para o espaço no último domingo, que a inteligência artificial será cada vez mais parte do cotidiano: nas escolas, no trabalho, na política, e que só há um caminho para que isso ocorra de forma ética: o da educação crítica. Não há espaço, portanto, para neutralidade. Ou nos alfabetizamos para a nova realidade, ou seremos manipulados por ela.
O gesto de Huck é mais do que louvável: é emblemático. Ao usar sua visibilidade para fomentar consciência, ele também acaba redefinindo o papel do comunicador em tempos digitais. Em um país onde o debate público frequentemente tropeça em simplificações, Huck ofereceu um raro exemplo de sofisticação tecnológica, aliada ao senso da educação. Que sua iniciativa inspire não apenas aplausos, mas também ações concretas, pois a era da IA já começou, e só sobreviveremos a ela, como o próprio apresentador ressaltou, com domínio e responsabilidade.