
No momento em que o Brasil inteiro se debruça em dor pela morte trágica de Juliana, Larissas e Vitórias, e enquanto milhares de pessoas pelo mundo rezam por um fim às atrocidades decorrentes de guerras, genocídio em Gaza, e por aí vai, Andressa Urach teve a coragem, ou melhor, a insensibilidade, de pedir orações… Para os olhos recém-operados que ela decidiu mudar de cor. É difícil encontrar palavras que expressem o tamanho do abismo entre o que ela enxerga e o que o mundo sente. Parece que, ao tentar clarear os olhos, Andressa escureceu ainda mais sua percepção da realidade. E eu acabei lembrando aqui: "O essencial é invisível aos olhos", frase marcante do livro 'O pequeno príncipe', um clássico da literatura escrito pelo aviador francês Antoine de Saint-Exupéry. E, com isso, também veio a vontade de escrever sobre o tema. Vamos lá...
Vivemos um tempo de dor coletiva, de colapso emocional e espiritual. É impossível andar pelas ruas sem sentir o peso do luto, do medo, da desesperança. Gente rezando pelos filhos, pelos pais, pelos que se foram. E, nesse cenário carregado de urgência humanitária, uma mulher pública escolhe ocupar espaço com um apelo narcisista que beira o grotesco. Orar por olhos inchados de vaidade, enquanto há pais de olhos inchados de tanto chorar seus mortos. Isso não é apenas um delírio ególatra. É uma agressão ao senso mínimo de humanidade.
O que Andressa parece não compreender, entre um milhão de outras coisas, e talvez nunca consiga, por limitação moral, é que visão não se resume à estética ocular. Não adianta trocar a cor dos olhos quando esses olhos não são capazes de enxergar, como citei acima, o essencial: empatia, dor alheia, responsabilidade social. É um gesto estético que, nesse contexto, se transforma num símbolo de tudo que está errado com o culto à aparência e a completa desconexão com o que realmente importa. Em vez de se posicionar, de contribuir, de silenciar em respeito, ela escolheu pedir orações por algo que não merece mais do que um colírio e um espelho.
Andressa, há tempos, já vinha flertando com o ridículo. E não falo da questão sexual, porque acho que cada um tem a sua e não sou falso moralista. Ao meu ver, são nesses momentos, que ela ultrapassa a linha do irreversível. Sua atitude é um tapa na cara de quem ainda acredita que figuras públicas têm, minimamente, o dever da decência. Ela não só fechou os olhos para o mundo: ela arrancou deles toda e qualquer possibilidade de vergonha. O que eu queria mesmo, do fundo do meu coração, é que esse texto fosse um espelho: um daqueles em que a imagem devolvida é tão constrangedora que só resta abaixar a cabeça. E, talvez, descobrir que existem dores muito maiores do que a que cabe num olho operado, mas que já não enxerga o essencial há pelo menos uma década.