
Desde que o Nubank passou a ser um dos patrocinadores oficiais do Jornal Nacional, fontes do jornalismo da casa relatam preocupações com a linha editorial do principal telejornal da Globo. De acordo com fontes absolutamente seguras, determinadas pautas vêm sendo discutidas e alinhadas previamente com o banco. Um dos exemplos mais evidentes aconteceu recentemente: logo após uma reportagem sobre um tema econômico sensível, um comercial do Nubank entrou no ar dando continuidade ao assunto e afirmando: “Vocês viram aí no jornal, né?”, escancarando a sintonia entre conteúdo editorial e interesse comercial, uma vez que a propaganda foi previamente gravada, enquanto o JN ocorre ao vivo.
Ainda de acordo com este mesmo grupo de profissionais, esse tipo de prática levantou um silencioso questionamento interno na redação, pautado em preocupações sobre a independência jornalística e o comprometimento com a imparcialidade. Quando o conteúdo de um telejornal é seguido por uma publicidade que reforça a mesma narrativa, especialmente vinda de um patrocinador interessado diretamente naquele tema, o limite entre jornalismo e publicidade pode se dissolver de forma sutil. A credibilidade do conteúdo jornalístico começa a ser corroída, e o telespectador, sem saber, é levado a consumir uma visão de mundo moldada não por critérios técnicos ou jornalísticos, mas por interesses econômicos.
O episódio que acaba de gerar, até agora, uma das maiores crises institucionais para o telejornal aconteceu ontem, quando a Globo se posicionou de forma clara e inédita sobre a questão das taxações, o que imediatamente viralizou nas redes sociais e sites de notícias. A repercussão interna foi intensa, gerando uma crise sem precedentes nos bastidores do jornalismo da emissora.
Segundo apurado por esta coluna, houve desconforto entre editores e executivos de diversas áreas, que viram na cobertura um viés que não representava o equilíbrio jornalístico esperado, especialmente diante da proximidade do tema com os interesses do Nubank.
Profissionais ouvidos por esta coluna, sob anonimato, foram categóricos ao afirmar que a influência do banco pode ter interferido na pauta de ontem. O argumento é direto: o conteúdo exibido no jornal precisa estar minimamente independente dos ideiais do seu banco patrocinador. “Não dá para o jornal defender uma coisa e o banco, logo depois, aparecer com uma propaganda defendendo o contrário”, explicou.
Essa lógica de alinhamento pode estar, segundo estas mesmas fontes, influenciado decisões editoriais acerca de temas sensíveis, uma prática que vem proocupando os profissionais, sendo uma linha tênue para o ferimento dos princípios básicos do jornalismo imparcial, em que se apoia as diretrizeres do Jornal Nacional em seu Manual de Redação e Ética.
A preocupação agora dentro da Globo é com a escalada dessa crise. A emissora, que durante décadas defendeu sua autonomia editorial como um pilar inegociável, se vê diante de um impasse: até que ponto é possível manter a credibilidade jornalística quando interesses comerciais são questionados pelo público, se tornando parte da pauta?
O patrocínio oficial do Nubenk, que antes era uma moldura publicitária, parece agora ameaçar o conteúdo. E nesse contexto, o que o JN busca, de acordo com os últimos diálogos acerca da crise instaurada, é não deixar o episódio de ontem ser abatido do preço da confiança do público.