
Em uma novela onde cada personagem é composto por um universo de intenções, disfarces e verdades, Belize Pombal entrega, como Consuelo, uma atuação sensacional. Principalmente nos últimos dois dias, quando vai jantar com a família e formalizar a benção para o namorado da filha. Nesse jantar, principalmente, percebi a atriz nos detalhes mínimos! E é justamente aí que reside sua grandeza.
Os trejeitos de Consuelo não são construções caricatas, mas extensões do que parece ser uma personalidade cuidadosamente esculpida pela atriz. O modo como Belize manipula os óculos, jogando-os sutilmente no rosto ou tirando-os para pontuar uma frase com o olhar, revela uma consciência corporal afiada, quase coreográfica. Quando ela lança o olhar por cima da armação do óculos, nunca é gratuito: é julgamento, é dúvida, é autoridade. Cada gesto, cada movimento serve à cena com uma funcionalidade dramática que impressiona. E é construção dela!
A boca de Consuelo também é um território expressivo. Ela sorri pra cima, e também pra baixo. Belize consegue inserir pequenas contrações, sorrisos de canto, trejeitos labiais que se entrelaçam com os olhares, e que dizem tanto quanto as falas. Essa dança entre os elementos do rosto revela um domínio técnico digno do teatro mais exigente, mas que aqui é amortecido pela leveza da televisão. A câmera adora Belize porque ela sabe exatamente até onde ir sem ultrapassar o tom que a novela pede. Ela dialoga com a lente, mas nunca quebra a ilusão com exagero.
O mais notável é que, mesmo com tantos recursos técnicos em ação, nada parece ensaiado ou artificial. Há uma naturalidade encantadora na maneira como Belize permite que Consuelo exista em cena. A personagem não parece “atuada”, mas vivida. E esse é um feito notável quando se trata de uma novela com tantas tramas paralelas e personagens fortes. Belize Pombal faz com que Consuelo se destaque não pela grandiosidade, mas pela precisão. Ela é uma grata surpresa em Vale Tudo.
Com Consuelo, a grande atuação pode ser observada no detalhe. Ela não precisa roubar a cena, ela a ocupa com autoridade tranquila, como quem sabe o que está fazendo e o faz com arte. É uma presença que enriquece a narrativa, valoriza seus parceiros de cena e eleva o nível do conjunto. Sua Consuelo é uma aula de interpretação para quem sabe ver além do texto. Parabéns, Belize.