
Silvio Cerceau escreve desde a infância. Alfabetizado aos seis, sete anos, já reescrevia cenas de novelas num impulso narrativo que só aumentaria com o tempo. “Escrever é um dom que me foi dado pelo destino”, afirma. Quando criança, dizia com convicção o que queria ser quando crescesse: escritor. E foi com 17 anos que concluiu seu primeiro livro, Vitrine Humana, enviado a várias editoras sem sucesso imediato. Quatorze anos depois, em 9 de novembro de 2004, ele finalmente lançou a obra que marcaria também o nascimento de sua carreira literária. “O livro figurou na lista dos mais vendidos, hoje tem mais de 150 mil leitores e foi roteirizado para um filme e uma série”, comemora. Hoje, são 21 anos de estrada, treze romances publicados, roteiros de novelas, séries e filmes a caminho, entre eles 'As Mineiras, Uai', produzida pela Cangaral e prestes a estrear no streaming.
Da literatura à TV
A transição da literatura para o audiovisual, segundo Silvio, aconteceu de forma natural. “Foi automático. Na literatura, amadureci minha escrita, defini meu estilo, selecionei minhas referências e assim me senti pronto para o desafio de criar roteiros, algo que exige muito do autor, afinal, tem que agradar e prender o público.”
Esse conhecimento técnico, aliado à experiência narrativa, fez com que Silvio também ganhasse espaço como colunista no portal Na Telinha, onde escreve sobre televisão e bastidores da dramaturgia brasileira. “Eu me surpreendi com o retorno. Os leitores gostam da minha coluna. Inclusive, muitas vezes foi destaque na home do UOL. Tenho um bom relacionamento e contato com autores, artistas e jornalistas que sempre me dão um feedback positivo. A partir de agora, toda semana haverá uma nova publicação, meu olhar sobre esse segmento, um olhar mais técnico, já que conheço bem a arte de contar histórias.”
O site que virou acervo: 400 contos sobre o Brasil e seus conflitos
Para celebrar os vinte anos do seu site pessoal, Silvio preparou um presente para o público: está relançando a plataforma com mais de 400 contos autorais, todos disponíveis gratuitamente. As histórias abordam temas diversos: amor, ciúme, traição, ética, moral, cotidiano, e especialmente as dores e lutas das mulheres. “São histórias que acontecem ao nosso redor, vitrines da vida”, define. Além dos contos, o site também oferece acesso à sua trajetória, aos seus livros, à sua coluna no Na Telinha e às redes sociais do autor.
Diante de um conteúdo tão extenso, Silvio orienta: “Vale a pena ler todos os contos. Leia sem moderação, é gratuito. Ressalto que na categoria Adaptações têm histórias populares reescritas com meu olhar. Histórias que deixam grandes lições de vida. Textos para o leitor refletir e olhar ao redor.”
Quando perguntado se há algum conto de que goste mais, ele ri e responde: “Essa pergunta é como indagar ao pai qual filho ele prefere.”
Mercado literário, audiovisual e hábitos de leitura
Silvio também compartilha sua visão sobre os desafios e transformações do mercado literário. “Tem suas fases de altos e baixos e depende muito do que é lançado no momento. São as febres de certas literaturas, por exemplo: Harry Potter, a série literária Cinquenta Tons de Cinza, a saga Crepúsculo e a obra primorosa de Sidney Sheldon. São exemplos de livros que venderam milhares de exemplares no mundo todo, inclusive no Brasil.”
Ele acredita que a leitura pode, e deve, ser um hábito cotidiano, uma fonte de prazer e conhecimento. “Vamos colocar a leitura na moda. A leitura acalma, ensina, faz você viajar sem sair do lugar, é uma boa terapia; vale a pena experimentar. Desde os nove anos de idade, eu lia, praticamente, um livro por dia. Isso me deu uma bagagem e um conhecimento exorbitante. E conhecimento é um tesouro que ninguém pode nos tirar.”
Segundo ele, os leitores, principalmente os jovens, têm buscado livros com linguagem mais coloquial, tramas dinâmicas, que reflitam sua realidade e que possam ser lidas rapidamente. “Ninguém tem tempo para ler livros com 300, 500 páginas.”
Já sobre o mercado audiovisual, Silvio se mostra otimista: “Nessa era dos streamings, as produções tomaram fôlego e atingem um número bem maior de pessoas no mundo todo. Resta ao roteirista criar boas histórias, tramas que conversem com todos os públicos.”
Conciliar múltiplos projetos e manter a criação viva
Mesmo com tantos projetos simultâneos, Silvio segue em plena produção. “Nos intervalos dos roteiros, pretendo escrever um livro, que é mais simples. O roteiro exige mais tempo, dependendo do produto é mais de um ano trabalhando no texto até a sua produção. Eu tenho a mania de escrever várias histórias ao mesmo tempo. No momento, estou finalizando meu romance Doce Castigo, que será lançado nos próximos meses, e escrevendo duas séries: o melodrama Tolerância e o humor Gaiato.”
O novo site já está no ar com um visual repaginado e pode ser acessado pelo link https://silviocerceau.com.br/. “Semanalmente será publicada uma nova história e serão feitas as atualizações necessárias. Tem o link para minha coluna no Na Telinha, atalho para minhas redes sociais, onde quem se interessar poderá acompanhar meu dia a dia, meus gostos musicais e invadir um pouquinho da minha privacidade”, comenta, com bom humor.
“Sempre acreditei que meu destino na vida era ser um escritor”
No encerramento da entrevista, Silvio compartilha um pensamento que resume sua vocação: “Escrever é um dom que a pessoa nasce com ele. Eu tive esse privilégio. Afinal, não existe faculdade oferecendo curso superior de escritor. Contar histórias é magia, é sobrenatural. Eu empresto minha mente e minhas mãos para os personagens mostrarem suas vidas. É ser Deus naquele mundo criado por mim. Sempre acreditei que meu destino na vida era ser um escritor.”