Alessandro Lo-Bianco

Manoel Gomes: caneta azul, tinta extremamente machista

Cantor que nunca foi cantor tenta humilhar a ex pelas redes sociais. O ridículo não sai de moda, só muda o cheiro da tinta

Cantor tenta humilhar a ex pelas redes sociais
Foto: Reprodução
Cantor tenta humilhar a ex pelas redes sociais



Manoel Gomes entrou para a cultura popular com um fenômeno de internet que, convenhamos, ninguém esperava. “Caneta Azul” virou meme, virou bordão, virou até trilha de festa junina improvisada. Naquele momento, o Brasil achava graça da ingenuidade e do estereótipo quase folclórico de um 'artista' que parecia não se levar a sério. Era ridículo, sim, mas era um ridículo inocente, um exagero simpático.

O tempo, porém, costuma revelar mais do que gostaríamos. E Manoel, em vez de amadurecer, decidiu levar seu ridículo para uma área muito mais indigesta: a forma como trata mulheres. O humor involuntário deu lugar a comentários desrespeitosos, tentativas de constrangimento e uma postura que escancara um machismo cafona, desses que a sociedade já não tolera mais. É como se a caneta tivesse secado, mas ele insistisse em rabiscar ofensas na pele alheia. E não é a primeira, nem a segunda, nem a terceira.

Há quem defenda, mas normalizar esse tipo de comportamento é compactuar com uma violência sutil e cotidiana. Quando um homem tenta aumentar de tamanho diminuindo mulheres, ele já não é mais artista; está apenas repetindo uma caricatura ultrapassada que nunca foi engraçada de verdade. O que antes era uma canção boba agora soa como um refrão amargo, daqueles que ninguém quer cantar junto.

Não é exagero dizer que o ridículo envelheceu mal. O personagem que parecia inofensivo virou alguém que expõe sem pudor sua falta de delicadeza, como se a plateia fosse obrigada a rir de sua grosseria. A questão é que o público mudou, e a risada já não vem fácil. Rir de mulher humilhada não é entretenimento; é um desserviço. O palco que ele ocupa precisa de mais responsabilidade do que piadas de quinta categoria. Se é que ele ainda tem algum tipo de palco fora das suas próprias redes sociais.

Se no passado Manoel Gomes nos fez rir de sua canção desafinada, hoje ele nos obriga a refletir sobre o silêncio que não podemos mais aceitar. O ridículo pode até ser perdoado, mas o machismo e a humilhação não. A caneta azul que o consagrou talvez não consiga reescrever sua imagem, mas pode, ao menos, servir de lembrete: a arte só faz sentido quando é usada para somar, nunca para diminuir. Tá feio.