Alessandro Lo-Bianco

Fiz de tudo para não escrever esse texto, mas não consegui

Discurso de Ratinho sobre Júnior Lima é absolutamente asqueroso. Foi mais sobre ódio do que sobre política

Ratinho proferiu discurso de ódio contra Jr Lima
Foto: Reprodução/Internet
Ratinho proferiu discurso de ódio contra Jr Lima
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O apresentador Carlos Massa, o Ratinho, disse recentemente que Júnior Lima “não tem talento como a irmã Sandy”, que “nunca cantou de verdade”, que tem um grupo “que é uma bosta” e que sua manifestação política foi “bobagem”. É preciso ir além do escândalo midiático: cada uma dessas frases, quando analisada sob a luz da ciência política, não traduz discordância política, mas sim discurso de ódio. O que Ratinho faz é operar no registro da humilhação, tentando reduzir uma figura pública à insignificância, não por argumentos racionais, mas pelo ataque direto à sua identidade e à sua trajetória artística. Isso não é crítica, isso é destruição simbólica. Isso é dircurso de ódio. É a certeza da impunidade que se vislumbra quando se tem um microfone que represente algum tipo de poder nas mãos. O ataque não é a toa. O comunicador é pai de político, usa o microfone de palanque e age mais como um deles, do que como um comunicador que fala o opera para todos os telespectadores. Se você não pensa como ele, e é uma pessoa pública, cuidado! Pode se tornar um alvo e, a qualquer momento, ser xingado de "bosta". O nível é muito, muito, muito, muito baixo mesmo. 

Quando Ratinho diz que Júnior “não tem talento como a irmã”, ele não está apenas emitindo uma opinião estética. Ele instrumentaliza a comparação como forma de aniquilação subjetiva: nega ao outro a legitimidade de existir artisticamente, amputando sua identidade e relegando-o a um eterno “apêndice” de Sandy. Na psicanálise, isso se chama violência narcísica: negar ao outro a possibilidade de individuação. Na política, é discurso de ódio porque não confronta ideias, mas inferioriza o ser humano. Não é sobre música: é sobre silenciar. 

A frase “nunca cantou de verdade, quem canta é a Sandy” se agrava. Aqui, Ratinho nega uma evidência pública: Júnior canta, toca, compõe. Trata-se de um mecanismo clássico do discurso de ódio: reescrever a realidade para invalidar a experiência do outro. Não se ataca a manifestação política de Júnior, mas sua própria existência profissional. É exatamente assim que se fabrica a exclusão social por meio do ódio: pela negação da realidade e pela tentativa de convencer o público de que o outro “não é nada”. Quando ele acrescenta que o grupo de Júnior “é uma bosta”, chega ao ponto mais baixo: a agressão pura, a ofensa despida de argumento, o esvaziamento de qualquer conteúdo democrático.

O mais perigoso, no entanto, é a frase que desqualifica a manifestação política como “bobagem”. Aqui, Ratinho expõe sua face antidemocrática. A democracia se sustenta no direito à divergência, e quando um comunicador de massas, com microfone aberto para milhões, usa esse espaço para ofender, ele não exerce opinião: ele exerce poder de ódio. Chamar de “bobagem” um protesto contra a anistia a golpistas é tentar deslegitimar um ato de cidadania. E quando isso vem acompanhado de xingamentos, o que se configura é um atentado à democracia, um rebaixamento da política ao campo da ofensa pessoal.

O Brasil não pode mais tolerar comunicadores que transformam seus palcos em trincheiras de ódio, como Ratinho faz, seguindo a mesma cartilha de pastores midiáticos que confundem fé com palanque. Já foi tempo em que se ouvia calado “besteira atrás de besteira”. Preconceito atrás de preconceito. Ratinho não tem amigos de verdade para dizerem: chega, tá feio. O que Ratinho tem são puxa sacos.

Hoje, é preciso nomear: Ratinho não é apenas grosseiro; ele é um agente de corrosão democrática. Ele não debate, ele xinga. Ele não diverge, ele tenta aniquila e cancelar de forma extremamente agressiva. E este é um recado direto: na falta de amigos sinceros, alguém precisa lhe dizer onde erra e onde comete crimes. O que Ratinho pratica não é crítica política, é violência simbólica. E violência simbólica, em 2025, é inadmissível. Chegou a hora de lutar contra esse tipo de violência moral e psicológica, não importa contra quem. Muito menos, contra um ratinho...