Alessandro Lo-Bianco

A Fazenda: Carol só perdoou porque também precisava ser perdoada

Jogo das desculpas é moeda de troca. E entre tantos pedidos cínicos, o único arrependimento verdadeiro foi o de Guilherme

A Fazenda
Foto: Reprodução/RecordTV
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Há máscaras que caem, mas há outras que se moldam tão perfeitamente ao rosto que parecem verdadeiras. Carol, participante de A Fazenda, parece ter dominado a arte de encenar virtude no meio do caos. Foi implacável ao dizer que jamais perdoaria o primo de Fiuk, que não havia desculpa possível para o erro dele ao chamá-la de “mulher do job”. O público entendeu a dor, compreendeu a ofensa, e até respeitou a firmeza. O problema é que, no jogo da moral seletiva, o discurso dura até a conveniência exigir o contrário, e Carol provou isso de forma chocante.

Quando cuspiu na cara de Ray, Carol ultrapassou qualquer limite de civilidade e respeito. Não há edição, contexto ou justificativa que amenize o ato. E o mais irônico é que, de repente, aquela mulher intransigente diante do erro alheio se viu vestindo o mesmo figurino que tanto condenou: o do arrependido. Sentou-se na roça, foi confrontada, percebeu o peso da rejeição, e ali, diante das câmeras e da própria imagem que começava a ruir, resolveu se transformar na nova embaixadora do perdão. Primeiro pediu desculpas a Ray; na sequência, claro, disse ao primo de Fiuk que perdoava ele.

O problema é que o perdão que nasce da conveniência não redime ninguém, apenas tenta salvar o personagem. O perdão que Carol ofereceu ao primo de Fiuk não foi fruto de empatia, mas de cálculo. Ela o perdoou porque precisava, e não porque quis. Perdoou para tentar equilibrar o jogo moral que ela mema vacilou.

No fundo, Carol entendeu que estava sendo tragada pela própria contradição: como pedir perdão por cuspir no rosto de alguém se, dias antes, havia dito que errar era imperdoável? Sua atitude foi uma tentativa de se proteger da hipocrisia que já transbordava na tela, um movimento desesperado de autopreservação maquiado de generosidade. E é justamente aí que mora o cinismo: ela não se arrepende, ela administra sua imagem.

Entre tantas simulações e pedidos de desculpas coreografados, há um ponto incontestável: o único arrependimento sincero veio de Guilherme. Ele errou, sim, mas se desculpou sem cálculo, sem esperar aplausos ou reciprocidade. Carol, por outro lado, transformou o perdão em estratégia de sobrevivência.