Alessandro Lo-Bianco

A queda de Rinaldi Faria e a lição que o SBT deixa ao mercado

Cargos não blindam ninguém da ausência de conexões humanas. A vida não é feita de trabalho, e sim de pessoas e conexões

Rinaldi Faria afirmou que o fim do ciclo estava previsto e não houve crise interna
Foto: Reprodução/Internet
Rinaldi Faria afirmou que o fim do ciclo estava previsto e não houve crise interna

A demissão de Rinaldi Faria do SBT, celebrada publicamente por artistas da casa e comentada com naturalidade em tom de celebração nos bastidores, revela um fenômeno clássico e óbvio: cargos formais só se sustentam quando existe legitimidade social. Em outras palavras, não basta ter a caneta, o crachá ou a sala com porta de vidro: é preciso que quem está ao redor reconheça naquela figura um ponto de equilíbrio, confiança e diálogo. E no caso de Rinaldi, ficou cristalino que sua liderança não encontrou eco no corpo artístico da emissora. A reação imediata, quase catártica, de parte do elenco ao anúncio de sua saída deixa isso evidente de maneira irrefutável.

O problema central, porém, não é a queda em si, mas o que ela simboliza. Devemos lembrar que poder, sem conexão humana, vira apenas uma estrutura vazia, condenada ao colapso. O SBT testemunhou isso na prática. Entre relatos internos e ruídos acumulados, a percepção generalizada era de que o diretor não atuava como pontes, mas sim como barreiras para os talentos da casa. A vida profissional, afinal, não se sustenta apenas em planilhas, metas e decisões administrativas; ela se sustenta em gente. Em como se fala, como se ouve, como se respeita. É da textura humana que nasce a força do trabalho, e não o contrário.

Um dos episódios mais simbólicos desse desgaste foi o conflito com Léo Dias, quando Rinaldi autorizou ou, segundo bastidores, incentivou a criação de um apresentador virtual chamado “Léo Noites”, numa ironia direta ao jornalista. A situação extrapolou a fronteira do mau gosto e entrou no território da falta de respeito. Esse tipo de gesto não é apenas deselegante; é politicamente insustentável. Em qualquer organização, sobretudo na comunicação, onde reputação e relações interpessoais são capital, ações assim corroem a legitimidade de um gestor e fragilizam o tecido humano que deveria dar sustentação ao seu trabalho.

A saída de Rinaldi, portanto, não é apenas um episódio administrativo, mas um retrato claro do princípio que rege qualquer instituição: mais importante do que o cargo é a forma como ele é exercido. A força de um diretor não está na cadeira, mas no vínculo que constrói com aqueles que dependem de suas decisões. Uma liderança só se sustenta quando soma respeito, escuta e reconhecimento. Quando isso falta, a autoridade deixa de ser um pilar e passa a ser apenas uma formalidade... Frágil, instável e facilmente derrubada.

E essa talvez seja a maior lição que fica para o mercado, para os profissionais e para quem observa o caso à distância: a vida não é feita só de trabalho, é feita de pessoas. Conectar-se com elas não é um adorno, nem um detalhe romântico, é o elemento central que determina a solidez de qualquer projeto. Rinaldi Faria caiu não por falta de cargo, mas por falta de conexões. E no fim das contas, é sempre isso que decide quem permanece e quem não permanece no poder.