Alessandro Lo-Bianco

André Bankoff: a guerra imaginária de um ator indignado

Numa democracia, a guerra só ocorre nas urnas. Ator deve extravasar seus instintos no videogame ou experimentar paintball

André Bankoff
Foto: Reprodução/Instagram
André Bankoff

 No vídeo que viralizou após a prisão de Jair Bolsonaro, o ator André Bankoff, conhecido por participações em novelas da Record, não mede palavras: chama Alexandre de Moraes de “psicopata”, acusa Lula e a “esquerda podre” de comandar um sistema autoritário e conclama abertamente uma “guerra” para “mudar esse país”. Ele afirma que “não é mais manifestação, é guerra… é ação, é atitude”, sustentando que postar no Instagram não basta diante de sua visão apocalíptica da política nacional. É uma performance inflamável que circulou em diversos sites e que revela, mais do que coragem, um profundo desconhecimento do funcionamento de uma democracia.

A declaração de Bankoff é tão ruidosa quanto vazia. Democracias sólidas se transformam pela via institucional: pela disputa partidária, pelo debate público, pelos freios e contrapesos e, sobretudo, pelo voto. A ideia de “guerra civil” como solução é uma recusa explícita do pacto democrático, uma fantasia de ruptura que substitui política por adrenalina. Mais grave: discursos como esse alimentam ódio e a ilusão de que violência é um método legítimo de mudança, quando, historicamente, ela só abre as portas para autoritarismos instáveis e ciclos de destruição.

É necessário dizer: o convite à guerra beira o absurdo e se aproxima do criminoso. Em um Estado de direito, mudanças ocorrem pelos mecanismos previstos na Constituição, nunca por armas improvisadas nas mãos de cidadãos revoltados. Incitar violência contra instituições é atentar contra a própria ordem jurídica que protege todos os direitos, inclusive o dele de emitir opiniões. Guerra civil não é reforma: é golpe. E golpe, além de ilegal, é moralmente inaceitável em qualquer sociedade minimamente civilizada.

Há ainda o componente psicológico desse surto retórico de André Bankoff. A psicanálise ajuda a entender como certos indivíduos transformam frustrações políticas em fantasias de heroísmo. O apelo à guerra funciona quase como um teatro interno: o discurso projeta a sensação de impotência coletiva num enredo de coragem e combate, um delírio de protagonismo num país onde a política real exige paciência, estudo, negociação, tudo aquilo que não cabe em vídeos inflamados de celular. A raiva, nesse contexto, vira espetáculo, não instrumento democrático.

E, no fim, vale repetir a lição elementar que Bankoff parece desconhecer: a única guerra legítima numa democracia é travada nas urnas. É ali que se decide o futuro do país, não em convocações patéticas feitas atrás de um celular. Caso ele esteja mesmo com essa ânsia bélica toda, há soluções inofensivas: videogames de guerra estão sobrando no mercado, e partidas de paintball podem oferecer emoção sem destruir a democracia. Porque quem prega batalha nas ruas é inimigo da ordem democrática, e talvez precise, urgentemente, trocar a retórica inflamável por um controle do jogo Control Strike. De resto, fica apenas a vergonha.