Leo Lins e Marcos Mion
Reprodução/Instagram/Globo
Leo Lins e Marcos Mion


A troca de farpas entre Marcos Mion e Léo Lins, iniciada com uma crítica pública do apresentador e respondido com dureza pelo humorista, poderia ter sido apenas mais uma disputa entre egos sob holofotes. No entanto, o que emergiu dessa colisão foi algo mais profundo: a revelação de um impasse silencioso, que há tempos ronda o universo do humor nacional, mas raramente é enfrentado com a seriedade que merece.

A postagem de Mion, embora feita em tom aparentemente ponderado, deixou entrever um incômodo que não é só dele. Ao mesmo tempo que reconhecia o talento técnico de Léo Lins, criticava de forma veemente a natureza de suas piadas. Com isso, se alinhava a uma parte crescente da sociedade que questiona os limites entre liberdade artística, embora tenha se posicionado contra a pena de Léo Lins. A resposta de Lins, por sua vez, foi tudo menos diplomática. Acusou Mion de hipocrisia, apontou contradições e fez o que sabe fazer: usou o ataque como palco dizendo que Mion gastava muito com assessoria de imprensa para manter, digamos assim, a imagem de uma 'familia feliz'.


Mas o que talvez nenhum dos dois tenha previsto é que o episódio escancararia algo maior do que eles. Pela primeira vez em muito tempo, a discussão sobre os limites do humor não ficou restrita às bolhas nem foi abafada por polarizações vazias. O embate entre duas figuras populares, com trajetórias tão diferentes, levantou um véu que muitos preferiam manter intocado: o humor, como qualquer expressão artística, é também reflexo do tempos. E, definitivamente, os tempos mudaram.

Isso não significa que se deva podar a arte com a tesoura do politicamente correto, nem que toda piada deva passar por um conselho ético. Mas implica reconhecer que quando um artista escolhe os alvos do seu humor, ele também escolhe o tipo de sociedade que está ajudando a construir. Então, se algo de bom saiu desse embate, foi a abertura de um espaço necessário para o incômodo. Talvez, enfim, estejamos prontos para conversar seriamente sobre o que esperamos do humor, e o que ele espera de nós. Porque o riso, ainda que seja fuga, também pode ser encontro. Mas só se houver coragem de olhar no espelho.

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