Ah, Odete Roitman… A simples menção desse nome costumava causar arrepios em qualquer um que sobreviveu à era dourada das vilãs de verdade. A gente esperava um furacão, um monumento de maldade com frases de efeito que grudassem no inconsciente coletivo como bordões eternos. Mas o que recebemos foi um vendaval moderado, com cara de quem ainda está esperando o sinal verde da direção para começar a destruir vidas de fato. A expectativa era de uma vilã que entraria para a história. Por enquanto, entrou só no grupo do WhatsApp das grandes promessas não cumpridas da dramaturgia.
Não é que a atriz seja ruim; longe disso! Mas é como se a Odete tivesse sido escrita com o pé no freio. A atuação parece travada, quase protocolar, e as frases… Ai, as frases. A cada novo capítulo, a vilania dela se aproxima mais de um Twitter de coach corporativo: “A Heleninha precisa se impor”, “Você tem que ser mais forte”, “Não deixe que os outros ditem suas escolhas”. Oi? Cadê o deboche? Cadê o veneno? Cadê o sarcasmo de classe alta que arranca o couro com um sorriso nos lábios? Em vez de temer Odete, estou começando a fazer anotações. E o pior: estou concordando com ela na criação da Heleninha.
É sério. Num episódio recente, Heleninha, que também não ajuda muito com aquele olhar de gata que caiu do telhado veio choramingar os próprios problemas, e Odete, sem piscar, soltou um “você precisa se priorizar”. Meu Deus! O que aconteceu com o arquétipo da vilã que manipula, engana, chantageia e ainda faz a gente aplaudir no final? Essa nova versão parece saída de um curso de inteligência emocional. Se continuar assim, sei não...
E aí, confesso: entre uma frase genérica e outra, comecei a pensar… Será que Odete tem razão? Será que Heleninha realmente precisa reagir? E nesse momento, meus caros, percebi que estava do lado da vilã. Não por medo, não por fascínio, mas por falta de opção. Quando a mocinha é apática e a vilã é sensata, você não se identifica com nenhum dos lados, só quer mudar de canal ou pedir pra entrar no grupo da Odete no LinkedIn.
Então, se você também está começando a achar que a Odete está apenas tentando salvar a novela com um pouco de firmeza e frases de autoajuda disfarçadas de maldade, talvez o problema não seja você. Talvez o erro esteja mesmo na novela. Porque, convenhamos, se até a Roitman virou conselheira de bem-estar, talvez a verdadeira vilã aqui seja o roteiro.