
O anúncio recente de que o SBT vai reformular sua grade para “acabar com o conteúdo jornalístico pesado e sensacionalista” escancara um erro conceitual grave: a emissora está confundindo jornalismo com sensacionalismo. Essa confusão não é apenas um problema editorial, é uma ameaça direta à relevância do canal como veículo de comunicação quando as notícias são boas, mas importantes. O jornalismo verdadeiro não precisa de gritos, sangue e exagero, mas também não pode ser pasteurizado ao ponto de ignorar a realidade dura do país.
Ao eliminar pautas policiais e reportagens mais densas, Daniela Beirute aposta em uma TV que vive apenas de boas notícias e conteúdos educativos. Parece nobre, mas é ingênuo. A vida real, infelizmente, não é feita apenas de histórias inspiradoras. Quando o SBT decide não cobrir uma tragédia, uma denúncia grave ou um problema social urgente, ele não está apenas se afastando do “sensacionalismo”, está se afastando do jornalismo.
É claro que existe um caminho do meio. Não é preciso recorrer ao espetáculo da dor para informar com qualidade. Existem maneiras éticas, responsáveis e equilibradas de abordar crimes, tragédias e conflitos. Isso se chama jornalismo com responsabilidade, e é isso que o público espera de um canal de TV que se diz comprometido com a verdade. Ao tentar ser apenas positivo, o SBT corre o risco de ser apenas irrelevante e ilusório imerso em um conto de fadas distante da realidade.
Nos bastidores, o burburinho é outro. Enquanto Daniela tenta vender a ideia de um novo SBT “mais leve”, muitos profissionais da emissora estão alarmados. O sentimento é de perplexidade. Esvaziar o jornalismo é, para muitos, um novo tiro no pé. O canal já vem enfrentando uma perda constante de audiência e identidade e retirar a força jornalística da grade só agrava esse processo de esvaziamento.
É urgente que Daniela Beirute e a direção da emissora entendam de uma vez por todas: jornalismo não é sinônimo de sensacionalismo. Informação não é inimiga da leveza, mas precisa ter coragem de encarar a realidade. Se o SBT quiser seguir relevante, precisa parar de fugir do mundo real e aprender a noticiá-lo com competência e ética. Não se trata de escolher entre o bem e o mal, mas de fazer jornalismo de verdade.