Marcos Mion, a espoa, e o filho Romeu
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Marcos Mion, a espoa, e o filho Romeu


Diante da repercussão do caso Leo Lins, era esperado que surgissem manifestações de apoio, especialmente por parte dos amigos próximos, que argumentam a defesa da liberdade irrestrita do humor, mesmo que seja um humor racista e que ataca as minorias. No entanto, surpreendeu, e até causou certo desconforto no público, ver justamente Marcos Mion se posicionando dessa forma, elogiando Leo Lins publicamente: "Excelente humorista". Sim, justamente Mion, que é pai de um adolescente autista. O público apontou: "Mion deveria ser mais sensível ao fato de que as piadas de Leo Lins envolvem diretamente pessoas com deficiência física", sim as mesmas que foram alvo do processo que culminou na condenação do humorista.

Não se trata aqui de exigir que Mion seja militante ou que combata cada humorista que ultrapassa os limites do respeito, mas, nesse caso específico, talvez o silêncio tivesse sido mais prudente. Afinal, ele não fala apenas como uma figura pública ou um apresentador de televisão, mas como um pai que conhece na pele o peso do preconceito que recai sobre pessoas com deficiência e suas famílias. Muitas dessas famílias não possuem a estrutura, a visibilidade ou os recursos que ele tem para superar essa dor; são pessoas comuns que apenas sofrem caladas, diariamente, com piadas e estigmas que reforçam estereótipos e perpetuam exclusões dos seus próprios filhos nas ruas, quando não se tornam alvos de piadas.

É inegável que Marcos Mion, ao longo dos anos, vem se consolidando como uma referência positiva na luta por mais inclusão e respeito às pessoas com deficiência, sobretudo no que diz respeito ao autismo. Mas ele erra grotescamente ao dizer que, se você não deseja assistir, não pague para entrar. Está completamente errado, pois os vídeos dos shows de Leo Lins têm gerado cortes para o Youtube, que atingem diretamente a tela daqueles que são vitimados pela exclusão de um falso racismo blindado pelos palcos.

Mas justamente por isso, seu gesto agora soa contraditório. A sensibilidade que ele demonstra em diversas pautas parece ter faltado ao tratar de um caso onde o humor se faz às custas de corpos e experiências que já enfrentam tantas barreiras. Sua posição, por mais bem-intencionada que possa ter sido, passa a mensagem errada e corre o risco de deslegitimar a dor de quem vive essa realidade.

Mion é, sem dúvida, uma pessoa fora da curva, mas, nesse episódio, parece que essa curva o colocou na contramão. A defesa de um humor que não reconhece limites éticos, sobretudo quando envolve pessoas vulneráveis, acaba sendo um desserviço para a causa da inclusão. Talvez ele, mais do que ninguém, pudesse ter aproveitado a oportunidade para reforçar a importância de se pensar criticamente sobre os alvos do humor e de como certos discursos afetam diretamente milhares de famílias como a dele, sem, no entanto, cravar: "Leo Lins é um excelente humorista. Não, não é. É racismo. É capacitismo. Hitler também se escondia atrás de um palco e de um microfone para atacar judeus, como o próprio Leo Lins, ao dizer que a quarta-feira de cinzas deveria ser um dia em homenagem aos judeus. Ou que pessoas pretas reclamam da falta de emprego, mas também eram insatisfeitas no tempo da escravidão, quando já nasciam empregadas. Vai mais além, quando diz que pessoas com crianças vítimas de hidrocefalia, ao menos, sofrerão com a falta de água em casa. Não, isso não é um homor. Isso é racismo velado escondido dentro de uma farsa de stand up.  O elogio, nesse caso, soou fora de tom, Mion. E isso, não é este colunista que aponta.

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