
Francisco Cuoco não morre. Pessoas assim não se despedem, não se apagam, não se recolhem à finitude. Elas mudam de lugar. Elas saem do plano físico para ocupar um espaço ainda maior entre nós: o da memória, da cultura, do afeto coletivo e, sobretudo, do legado. Cuoco agora é isso: um pedaço incontornável da história da televisão, do teatro, e da própria construção da dramaturgia brasileira.
Se os rostos envelhecem, os personagens não. E é na eternidade desses personagens que Cuoco permanece. Quem foi capaz de atravessar décadas, construir protagonistas, vilões, galãs, homens comuns e complexos, não some: se amplia. Francisco Cuoco não é só lembrado: ele é referência, é escola, é manual vivo do que significa fazer arte com verdade, consistência, elegância e entrega.
A morte não alcança quem tocou tanta gente de forma tão profunda. Porque o corpo vai, mas a obra fica. E quando a obra é tão vasta, tão respeitada e tão necessária quanto a dele, a ausência física vira apenas detalhe. Ele não sai de cena. Apenas troca os palcos. Agora, habita o espaço reservado aos que transformaram a arte em resistência, beleza e humanidade.
Sua trajetória é uma aula permanente de profissionalismo, disciplina e amor pela profissão. E quem ama de verdade o que faz, nunca desaparece: multiplica-se. Francisco Cuoco não morre. Ele se torna verbo, se torna memória afetiva, se torna história, se torna Brasil. E, mais do que tudo, se torna eterno naquilo que nenhum tempo, nenhuma despedida e nenhuma ausência é capaz de apagar: o impacto de ter feito do ofício de atuar um gesto de amor, de beleza e de permanência.