Alessandro Lo-Bianco

O lamento da negligência de um resgate, de um guia e da morte

Morte de Juliana escancara vulcão de negligência: guia irresponsável e autoridades omissas que só se mexeram pressionadas

Brasil lamenta morte de Juliana
Foto: Reprodução
Brasil lamenta morte de Juliana


O que aconteceu com Juliana, brasileira que perdeu a vida após sofrer um acidente durante uma trilha no vulcão Marapi, na Indonésia, não é acidente. É negligência, e das mais brutais. O primeiro erro começa no momento em que o guia, responsável pela integridade do grupo, simplesmente a abandonou na trilha. Uma decisão covarde e que contraria qualquer protocolo mínimo de ética e segurança nesse tipo de atividade. Deixar uma pessoa cançada e isolada em um terreno hostil, é uma sentença de morte: e assim se confirmou.

A segunda falha, tão grave quanto, foi a completa omissão das autoridades locais. Durante quatro dias, a família de Juliana, amigos e toda uma rede de brasileiros assistiram a um show de desinformação, descaso e ineficiência. O governo da Indonésia teve a audácia de divulgar informações falsas, dizendo que ela estava recebendo água e comida, quando, na verdade, ela estava largada, sozinha, agonizando, sem qualquer assistência. Uma mentira cruel, que atrasou o socorro e feriu ainda mais quem, daqui, lutava por sua vida.


O papel do Itamaraty nesse episódio também foi vagaroso. Só se mobilizaram após uma pressão massiva nas redes sociais, com milhares de brasileiros implorando, marcando perfis oficiais, exigindo ação. É inadmissível que um órgão diplomático precise ser acuado digitalmente para cumprir aquilo que é sua obrigação elementar: proteger seus cidadãos no exterior. Juliana ficou quatro dias esperando por um resgate que, se tivesse sido feito com o mínimo de celeridade e responsabilidade, poderia ter tido outro desfecho.

É necessário reconhecer que o resgate só avançou porque profissionais independentes, alpinistas e voluntários se colocaram em risco para fazer o trabalho que cabia às autoridades. Sem eles, provavelmente o corpo de Juliana nem teria sido encontrado ainda. Uma sucessão de omissões, mentiras e incompetência que colocabrou para o esgotamento de uma vida e deixou um país inteiro consternado e, acima de tudo, revoltado.

A morte de Juliana não foi um infortúnio da natureza. Foi, sim, uma tragédia, que teve a continuidade fabricada pela negligência de pessoas, instituições e governos que falharam de forma imperdoável.