Daniela Beyruti
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Daniela Beyruti


Está virando moda em algumas redações e emissoras usar inteligência artificial como atalho para engajar o público. Mas quando essa substituição atinge funções como apresentadores e colunistas, o que se vê não é inovação, é a mais translúcida forma de desvalorização do ativo mais nobre que uma empresa pode ter: os seus profissionais. Colocar um rosto gerado por IA para apresentar um programa ou assinar uma coluna é cuspir no esforço diário de milhares de jornalistas que, com ética, formação, estudo e sensibilidade, constroem credibilidade tijolo por tijolo.

É ofensivo. É cruel. É magoante. É ridículo. É revoltante. Quem vive o chão da redação sabe o quanto lutamos para ocupar espaços, consolidar trajetórias, ganhar voz. São anos de estudos, noites de plantão, prazos apertados, escolhas difíceis, pressões de chefia, medos e renúncias. Acordar e descobrir que um avatar com voz robótica e texto pré-programado está “apresentando” um programa ou “comentando” a vida alheia é, no mínimo, um tapa na cara de quem leva o jornalismo a sério.

Mais grave ainda é a mensagem que isso passa: não precisamos mais de gente. Não precisamos da escuta sensível do repórter, do faro de pauta do colunista, do improviso ao vivo do apresentador. Para essas empresas, basta uma simulação. Basta a aparência de credibilidade. Mas o público não é burro. E a imprensa não é só informação, é emoção, afeto, humanidade. E isso, a máquina jamais vai entregar.

Empresas que apostam nessa substituição barata estão dando um recado claro aos seus profissionais: vocês são descartáveis e, seu lado humano, não importa. E ao fazer isso, esquecem que são justamente essas pessoas, os jornalistas reais, que sustentam a relação de confiança com o público. A inteligência artificial pode até parecer um truque moderno. Mas, no fim, é só isso: um truque. E truques baratos acabam custando muito caro.

É preciso dizer com todas as letras: essa prática não é “o futuro”. É retrocesso. É precarização. É desrespeito. O uso de inteligência artificial como rosto ou voz do jornalismo é uma traição à profissão, aos profissionais e ao público. E se hoje as empresas trocam gente por algoritmo, amanhã o que perderão será algo que algoritmo nenhum pode devolver: recursos humanos. O que está acontecendo com o SBT? Em meio a cerca de cinquenta demissões, isso é um tapa na cara de quem vestiu a camisa pela empresa nos últimos anos.

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