
'Preta no nome e Preta na consciência' não é apenas um trocadilho poético: é a afirmação de uma identidade que desafia padrões desde o registro civil. Ter sido registrada pela família e pelos fãs como “Preta” num país que, por vezes, marginaliza essa cor, foi um gesto simbólico que marcou o início de uma trajetória de afirmação e resistência. Logo no seu nome, ela já confrontou tabus e selou presença.
Desde muito cedo, Preta Gil se colocou como mulher transgressora. Estreou na mídia rompendo convenções: o ensaio nu no encarte de Prêt-à-Porter foi recebido com estranheza por alguns, mas serviu como manifesto visual de liberdade corporal. Foi assim que ela disse ao mundo: “sou real, sou negra, sou dona do meu corpo”.
No palco, ela fundou o Bloco da Preta, que se transformou em carnaval-povo, misturando funk, samba, axé, pagode num fluxo livre de gêneros e classes sociais. Transformou música em espaço de diálogo, inclusão e celebração da diversidade, levando milhares às ruas com alma de movimento cultural.
Em sua luta contra o câncer, Preta também subverteu tabus. Abriu o corpo, compartilhou cicatrizes, relatou a ileostomia que carregava: cicatriz de vitória, não vergonha. Falou com coragem sobre colonoscopia, sepse, e quase-morte, desmistificando o silêncio que encobre doenças íntimas e encorajando diagnóstico cedo e acolhimento emocional.
Tal como outros artistas, como Paulo Gustavo, que fizeram transformações intensas em vidas relativamente curtas ("Rir é um ato de resistência"), Preta cumpriu uma missão coletiva: abriu caminhos de visibilidade para mulheres pretas, LGBTQIA+, corpos reais, sexualidades livres. Sua biografia, pública e pulsante, deixa mensagens potentes que continuarão ecoando muito além dela: um legado vivo de liberdade e empoderamento. Obrigado, Preta.