
A Globo realizou uma análise minuciosa sobre a primeira temporada de Chef de Alto Nível e elencou "pontos de atenção" que deverão ser aprimorados para o futuro do reality culinário. A avaliação interna aponta desde questões de ritmo narrativo até o aproveitamento da apresentadora Ana Maria Braga, que, segundo executivos, acabou tendo uma participação considerada “apagada” na edição de estreia.
O primeiro destaque da análise é justamente a atuação de Ana Maria. Para a emissora, a grande estrela do reality apareceu pouco, limitada a falas breves e genéricas. “Muitos comentaram que ela virou quase uma figurante de luxo”, reconheceu um dos executivos duante uma reunião virtual pelo Teams. O diagnóstico aponta um “potencial desperdiçado da apresentadora”, que poderia estar mais próxima dos pratos, com mais destaque no roteiro culinário.
A Globo ainda reconheceu internamente que o formato rígido adotado engessou a espontaneidade de Ana Maria, que costuma render inúmeros momentos virais justamente pela autenticidade. “Deixamos de lado o improviso espontâneo que fez sucesso da Ana Maria nas redes sociais, e isso tem pesado", observou um dos participantes, antes de completar: "não geramos memes com Ana Maria pela falta de tempo aos improvisos”, resumiu. A conclusão sobre a própria apresentadora, segundo o encontro, foi clara: ampliar a participação de Ana Maria Braga: mais interação, autoridade, emoção e presença nas cozinhas e bastidores. "Queremos na próxima edição um Chef de Alto Nível não só como um grande evento culinário, mas como um programa que conecta emocionalmente com o público e que, principalmente, valoriza o talento de Ana Maria Braga como protagonista dessa jornada gastronômica. Mãos à obra!”, foi o comunicado final da conferência.
Outro ponto sensível está na edição acelerada e no ritmo frenético do programa. A narrativa foi considerada apressada demais, impedindo o público de se envolver com os participantes ou entender com clareza as provas. “Muito rápido. Não dá tempo de torcer por ninguém”, disse um executivo. A busca por emoção imediata também foi criticada: a inserção de parentes chorando nos primeiros episódios soou artificial e acabou sendo descontinuada. Como consequência, os competidores foram mal apresentados, dificultando a identificação e a empatia da audiência.
As comparações com o MasterChef Brasil surgiram de forma inevitável e, em muitos casos, desfavorável. Embora os formatos sejam distintos, a similaridade visual e o ritmo intenso provocaram a sensação interna de que a concorrência ainda se sobressai em termos de fluidez narrativa e conexão emocional. Somou-se a isso na reunião "a falta de clareza nas dinâmicas": o público não compreendeu totalmente como funcionavam as transições entre as cozinhas e os desafios. “Precisamos reforçar isso na próxima edição”, admitiram executivos.
A crítica também recaiu sobre os jurados, que não aprofundaram suas avaliações. As análises técnicas foram consideradas curtas, excessivamente técnicas e pouco didáticas, sem oferecer aprendizado ao espectador. “Faltou aquele tipo de dica que vai direto para a mesa das pessoas”, reforçaram os executivos, lembrando ainda que a ausência desse engajamento social reduziu o alcance digital do programa.
Mesmo a estrutura visual grandiosa, com a imponente Torre das Cozinhas de 17 metros, não teve o impacto esperado na narrativa. O cenário impressionou no papel, mas não se integrou de forma orgânica ao storytelling. Por isso, as recomendações da Globo incluem equilibrar melhor edição e ritmo, criar pausas estratégicas para construir empatia com os competidores, enriquecer os comentários dos jurados com dicas práticas, integrar o cenário à experiência emocional e, sobretudo, permitir maior espontaneidade a Ana Maria Braga.
A ata final da reunião gerada no dia seguinte recomenda reforçar a identidade única de Chef de Alto Nível, distanciando o programa das comparações com outros realities. “Queremos que a próxima edição tenha tempo, emoção e mais autenticidade”, concluíru o setor responsável pela análise do programa.