
Ed Motta insiste em vestir a fantasia de vítima de uma suposta “retaliação” do público brasileiro, como se o silêncio de suas plateias fosse fruto de censura e não de fadiga coletiva diante de um comportamento reiteradamente degradante. Ao qualificar a reação popular como “muito caipira, muito jeca”, revela não apenas desprezo por sua própria terra, mas um olhar colonizado que confunde crítica legítima com linchamento simbólico. A política ensina que a crítica pública é parte constitutiva da democracia; confundi-la com perseguição é negar a própria essência do debate social. Na internet, o apelido já pegou faz tempo: Ed Roitman.
Historicamente, a música brasileira se fez grande justamente porque seus artistas souberam dialogar com o povo. Do samba de Cartola ao tropicalismo de Caetano e Gil, o público nunca foi um detalhe descartável: era interlocutor, era força, era parceiro criativo. Ed Motta, ao contrário, opta por inverter a lógica e tratar a audiência como incômodo. A comparação com outros países soa caricata, porque ignora que nenhum artista, em qualquer parte do mundo, sobrevive artisticamente sem respeito mínimo a quem o sustenta no palco. O problema, portanto, não é “o Brasil atrasado”, mas a postura de quem acha possível existir música sem gente.
Se você estudou minimamente a história do Brasil, você sabe: acusar o país de “terceiro mundista” apenas reforça uma visão elitista e excludente. Em vez de reconhecer as transformações do mercado, a descentralização cultural promovida pela internet e a ascensão de novos públicos e gêneros, Ed Motta prefere atribuir seu isolamento a um complô coletivo. A verdade é que artistas com conduta autoritária, como quando demitiu um músico ao vivo em pleno show, encontram cada vez menos espaço em sociedades que exigem transparência, dignidade e respeito.
O Brasil não “boicota” Ed Motta. O Brasil apenas cansou de uma retórica soberba que destoa do espírito de uma música historicamente plural, agregadora e democrática. Quando o artista chama de “jeca” a crítica popular, na verdade entrega seu desprezo por tudo aquilo que fez da música brasileira patrimônio imaterial da humanidade: a mistura, o improviso, o encontro entre o erudito e o popular. E nesse gesto, acaba denunciando o próprio provincianismo que atribui ao país.
Não se trata de censura, mas de consequência. Quem confunde vaidade com talento e desprezo com crítica social encontra, inevitavelmente, o silêncio das plateias. O isolamento. Esse silêncio não é punição política, mas a mais sofisticada forma de resposta que a história da música brasileira oferece: o público se retira, e com ele vai embora a relevância.