
Há uma confusão recorrente entre popularidade e relevância, como se o reconhecimento do grande público fosse um atalho superficial, destituído de densidade. No entanto, quando falamos de Luciana Gimenez, estamos diante de um fenômeno raro da televisão brasileira: uma mulher capaz de atravessar universos distintos: do mais popular ao mais gourmet, sem se perder no percurso. Esse trânsito revela não apenas uma habilidade de comunicação, mas uma inteligência social e cultural que a credencia, sem constrangimento, a ocupar uma cadeira no Saia Justa do GNT.
Ao longo da última década, Luciana transformou o palco de seu programa em um verdadeiro laboratório social de quebras de tabus. Foi ali que temas espinhosos, tradicionalmente relegados ao silêncio, encontraram espaço: violência contra a mulher, conflitos conjugais, dramas psicológicos, tabus amorosos, transição de gênero, sexualidade, foram mais de 5.000 tabus quebrados e discutidos em seus programas na última década.
Poucas apresentadoras ousaram tanto na exposição das feridas femininas em seus programas nos últimos anos como Luciana. Esse percurso já seria suficiente para reivindicar seu lugar em uma roda de debates que se propõe a ser plural. Mas há ainda outro aspecto pouco debatido: a erudição de Luciana. É tentador reduzi-la a caricaturas fáceis, mas. quem conhece de verdade a apresentadora sabe: Luciana é absolutamente culta, articulada e informada, sempre atenta ao compasso dos acontecimentos mundiais. Sua presença no Saia Justa significaria não apenas a inclusão de uma voz popular, mas de uma intelectualidade midiática que entende tanto a sofisticação do debate político quanto o valor simbólico de uma conversa íntima sobre relações humanas. Esse duplo registro é o que sustenta sua potência.
Podemos lembrar, por exemplo, de três momentos em que Luciana quebrou tabus femininos em rede nacional: quando trouxe ao palco discussões sobre violência doméstica com vítimas ainda enfaixadas, quando deu visibilidade às dores emocionais da separação, seus motivos e consequências na vida livre de uma mulher, e quando abriu espaço para falar de prazer feminino sem pudor, sem hipocrisia ou falso moralismo. Esses episódios não foram acidentes de pauta: eles compõem uma trajetória coerente, de alguém que insiste em colocar a experiência da mulher no centro da conversa. Essa constância é o que dá peso e autoridade hoje à sua voz.
Por tudo isso, soa quase anacrônico que Luciana Gimenez ainda não tenha sido convidada a integrar o Saia Justa. O programa, que sempre buscou refletir o espírito de seu tempo, carece justamente dessa figura que transita entre polos, que traduz o sofisticado com carisma popular, e o principal, que enfrenta o popular sem condescendência.
Luciana já provou, década após década, que sabe mediar, provocar e iluminar debates. Resta ao GNT perceber que a cadeira do Saia Justa, com a saída de Eliana, está vazia de uma presença como a dela, emponderada e sem medo de narrativas complexas. Arrisco a dizer que a ausência de Luciana no Saia Justa já se tornou um erro.