Poliana Rocha e Leonardo
Reprodução/Instagram/@polianarocha/@leonardo
Poliana Rocha e Leonardo



Na entrevista com Daniela Albuquerque, Poliana Rocha relatou que, durante uma viagem, ela e Leonardo conheceram uma criança que vendia chinelos; segundo ela, Leonardo convidou o rapaz para conhecer Goiânia, ele passou a dormir na casa da família e, quando deixou de “brincar” com Zé Felipe, foi “devolvido” aos pais. Esse relato foi amplamente noticiado e gerou reação pública imediata. Agora, Poliana ameaça processar os críticos, que, assim como eu, ficaram estarrecidos com a fala absurda. Pois bem, vamos lá...

É um dever moral rebater Poliana Rocha. A esposa de Leonardo relatou que, em viagem, “adotou para brincar” uma criança pobre. Não pediu autorização aos pais, nem percebeu que transformava uma vida em brinquedo. Esse ato, que ela tratou como ternura, revela naturalização da desigualdade: a criança, retirada de seu contexto, virou objeto para satisfazer o capricho da elite.

No Brasil, o passado escravocrata ressurge em gestos banais. A cena descrita por Poliana ecoa a lógica da Casa Grande e da Senzala: de um lado, quem manda; de outro, quem obedece, sem voz. Ao expor a história em tom de graça, ela reafirma um imaginário em que corpos pobres são usados sem consentimento. Não se trata de exagero.

A Constituição e o ECA são claros: crianças têm direitos inalienáveis, entre eles o da proteção integral. Reduzir uma criança a entretenimento, sem autorização, é violar sua dignidade. Quando isso é feito publicamente, com orgulho, há um duplo erro: o ato e sua validação social. Por isso, não basta indignação passageira. É preciso responsabilização: debate, investigação e reparação.

O gesto de Poliana não é apenas individual, mas sintoma de um país que ainda não rompeu com sua herança escravocrata. A reparação começa quando se recusa a aceitar que crianças sejam vistas como objetos. Criança não é brinquedo. Criança não é vitrine. Criança não é souvenir de viagem. Esse é o ponto. E ninguém hoje tem medo de processo de Poliana. A ameaça só a deixa mais patética nessa história.

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