Jojo Todynho
Reprodução: Instagram/@jojotodynho
Jojo Todynho

É curioso observar que Jojo Todynho, uma mulher que venceu as estatísticas e saiu das margens para o centro da fama, agora se coloca como juíza de quem ainda vive na precariedade que um dia também foi a sua. Ao dizer “Se me vê, não venha me pedir nada. Eu não sou obrigada a dar nada para vocês”, Jojo reproduz a lógica meritocrática que a elite sempre usou para justificar privilégios. A sociologia nos ensina que o sucesso individual não anula as desigualdades estruturais. Ter escapado da pobreza não torna ninguém imune à promoção da mesma violência e opressão que sofreu no passado, e muito menos autorizado a culpabilizar os que ainda estão nela.

Quando ela afirma que “não é porque eu tenho dinheiro que eu tenho que ficar distribuindo dinheiro, não. Vocês têm que trabalhar!”, ignora que a economia informal é o único refúgio de milhões de brasileiros. O ambulante que vende bala não deve ser tratado única e exclusivamente como uma subcategoria de pedinte; é um trabalhador excluído das garantias do Estado.

A fala de Jojo revela um distanciamento perigoso entre o sucesso pessoal e a consciência coletiva. Ao defender a autossuficiência como virtude absoluta, ela repete a retórica neoliberal que romantiza o “empreendedor de si mesmo”, enquanto esconde que a maioria trabalha sem direitos, sem segurança e sem escolha.

Já ao culpar “o povo influencer que fica filmando dando dinheiro para vocês”, Jojo desvia a crítica. O problema não é a solidariedade midiática, mas a ausência de políticas públicas que garantam o mínimo de dignidade. Que bom que temos influenciadores que ajudem. Cabe uma observação aqui: a exposição da pobreza é de fato problemática, mas ela deveria nos levar a questionar a desigualdade, não a quem oferece um gesto pontual de empatia, que se transforma em alvo nas falas da 'artista'. Sim! O Estado brasileiro falha sistematicamente com esses cidadãos, e é justamente essa falha que obriga os invisíveis a depender da benevolência alheia.

Por fim, quando conclui “Se me ver, passa longe, porque eu não vou ajudar mais. Por causa de um, todos pagam”, Jojo revela o coração da questão: a generalização do pobre como ameaça, a criminalização da necessidade. É o mesmo discurso que legitima o aumento da repressão nas ruas e o desprezo cotidiano por quem sobrevive do improviso. A ciência política reconhece aqui a velha estratégia da elite: transformar vítimas em culpados. E o mais triste é ver uma voz popular ecoar esse coro, sem perceber que, no fundo, está apenas repetindo a ideologia de quem sempre quis mantê-la calada.

Jojo Todynho, como figura pública, poderia ser o espelho da superação com consciência, da mulher preta e periférica que entende que sua vitória só tem sentido se for coletiva. Mas, ao tratar os ambulantes com desprezo, ela rompe esse elo e reforça a hierarquia que um dia a oprimia. O que ela chama de “não ser obrigada” é, na verdade, a recusa de reconhecer a própria história. Porque quem um dia teve fome deveria, no mínimo, entender que a fome do outro não é abuso: é um retrato cruel do Brasil que ela, agora, parece ter esquecido. O retrato da vergonha.

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