
O Upfront 2026 da Globo prometia ser um encontro para celebrar a força da TV aberta, a criatividade dos produtores, o talento dos artistas e o entusiasmo de quem faz televisão. Mas o que o público viu foi um show de vaidade desmedida, daqueles que nem o melhor diretor conseguiria disfarçar. No lugar de inovação, o que se lançou foi um eco arrogante, um discurso que confundiu prestígio com superioridade e projeção com poder. A emissora, que tantas vezes foi escola e espelho, desta vez se comportou como se fosse o único reflexo possível. Ela diminiu os outros para continuar sentindo-se maior.
Renata Vanzetto, jurada do Chefe de Alto Nível, resolveu transformar a vitrine da Globo num palanque de desdém. Ao afirmar que um único episódio do reality teria dado mais audiência que toda a temporada do MasterChef, ela não apenas desdenhou de um formato concorrente, mas diminuiu o esforço de centenas de profissionais que acordam cedo, viram noites, suam, estudam e criam, gente que faz televisão não para inflar o próprio ego, mas para pagar boletos e alimentar sonhos. Para parecer grande, Renata escolheu o atalho mais pequeno: o de rebaixar o outro. Foi como servir um prato que a gente olha e diz: está nojento, não quero não, Renata.
Já William Bonner, que há décadas representa a credibilidade do telejornalismo, parece ter se esquecido de que o respeito é a base da profissão. Ao ironizar a cobertura da Fórmula 1 feita pela Band, perguntando se o público ainda se lembrava da competição desde que saiu da Globo, ele reduziu a importância de jornalistas, técnicos e comentaristas que, com recursos menores e amor equivalente, mantiveram vivo o interesse do público. A memória do telespectador não se apaga por contrato rescindido. O que se apaga é o brilho de quem acredita ser dono da história.
A televisão brasileira não é uma monarquia. É uma república construída a muitas mãos, das grandes e das pequenas, das que brilham no ar e das que ficam nos bastidores. Quando uma emissora se coloca acima das outras externalizando no microfone sua prepotência, soberba e arrogância, ela desrespeita não só os concorrentes, mas o público, que tem o direito de escolher o que assistir sem ser tratado como súdito.
O Upfront da Globo preferiu, nesse sentido, se apresentar ontem como exercício público de vaidade. E é justamente por isso que essa arrogância soa tão anacrônica. Porque o público de hoje não se curva mais diante de siglas, vinhetas ou logotipos. A audiência não é herança, é conquista diária, suada e merecida.
Quem precisa desmerecer o outro para se engrandecer revela o tamanho exato do seu interior, da sua alma. E a Globo, com seu microfone aberto e sua empáfia transmitida em HD, acabou divulgando não a força da sua programação, mas a fragilidade do seu respeito.