Equipe de Gaby Spanic acusa Fernando Sampaio de xenofobia
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Equipe de Gaby Spanic acusa Fernando Sampaio de xenofobia


Há algo de perturbador na postura de Fernando dentro de A Fazenda. O modo como ele eleva a voz diante de mulheres, com o corpo tenso e o olhar inflamado, não soa como coragem, mas como defesa. Ele grita não para se fazer entender, e sim para não ouvir o que o silêncio lhe diria: que a força que ostenta é o disfarce de uma vulnerabilidade que ele teme reconhecer. Ao afirmar que o reality “não é um jogo de gêneros”, Fernando tenta se eximir de qualquer leitura simbólica, como se pudesse apagar, pela retórica, as camadas de desigualdade que moldam suas próprias reações. Mas o inconsciente não se convence com slogans; ele revela, nos gestos, aquilo que o ego tenta negar.

Sob a lente psicanalítica dos realities, o grito constante é um pedido de socorro mal disfarçado. A necessidade de dominar o tom e impor autoridade sobre mulheres é a expressão de um ego frágil, que teme ser desafiado por aquilo que o espelha: a autonomia feminina. O homem que precisa afirmar poder através da voz demonstra não confiança, mas pânico: medo de não ser ouvido, medo de não ser o centro, medo de ser visto como igual. Em vez de força, há desespero; em vez de autossuficiência, há a angústia de perder o privilégio que sempre lhe garantiu a ilusão de controle.

A tentativa de tratar as mulheres “como homens”, como ele costuma alegar, não é sinal de igualdade, mas de negação. Fernando projeta sobre elas a imagem do adversário, recusando-se a reconhecer que o espaço de fala feminina não ameaça sua identidade, apenas a questiona. Ao reagir com brutalidade, ele reafirma o que mais teme: que sua masculinidade é frágil demais para suportar o confronto civilizado. O que ele chama de “tratamento igual” é, na verdade, uma violência simbólica, a recusa em admitir que as relações humanas não se medem pela força, e sim pela escuta.

Essa agressividade, disfarçada de sinceridade, ecoa um drama coletivo: o colapso da masculinidade enrustida. Fernando é apenas um rosto televisivo de um sintoma social mais profundo: o de homens que não sabem o que fazer com sua masculinidade absolutamente mal resolvida e sem aceitação.

O grito que ele lança contra as mulheres é, na verdade, um grito contra o próprio desconforto de ser um homem num tempo em que o masculino já não é sinônimo de autoridade. Ele não enfrenta as mulheres, enfrenta a ameaça de um novo mundo onde elas já não pedem permissão para existir. E isso se torna algo muito mais grave se, no fundo no fundo... o desejo dele seja ser mulher.

Talvez Fernando tenha odiado ter sido educado para dominar, quando o tempo agora exige compreender. Odeia, talvez, o próprio destino de ter nascido homem: herdeiro de uma masculinidade que o aprisiona tanto quanto oprime as mulheres que ele tenta calar. No fim, seus gritos não são contra elas, mas contra si mesmo: ecos de um homem que, sem saber, luta para se libertar do papel que o tornou prisioneiro do próprio gênero.

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