Mateus Solano se descontrola no teatro e tem atitude lamentável
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Mateus Solano se descontrola no teatro e tem atitude lamentável

A cena é clara: uma moça em sua primeira ida ao teatro, sentada na primeira fila, com o espanto e a admiração próprios de quem descobre uma experiência nova diante do seu artista preferido; Mateus Solano, de quem ela era fã (ou a personagem, Ivana, que ele encarna) se aproxima, ela levanta o celular para guardar o momento animada com a proximidade inédita diante do seu ídolo e, em vez de um improviso que acolhe com amor, vem um tapa que joga o aparelho longe no chão do teatro. Independentemente de avisos prévios ou da transgressão momentânea, que não foi o caso, há algo infinitamente mais grave nessa resposta: a escolha pela violência como recurso dramatúrgico e corretivo. Isso não é atuação Mateus, é arbítrio.

A justificativa de “interpretação” ou de atribuir o gesto à personagem não livra o artista de sua responsabilidade pública. O palco não é ilha isolada de ética: cada gesto ali repercute fora das cortinas e volta à plateia como lição. Se a arte pretende educar, ela o faz pela persuasão simbólica, pela empatia, pelo convite à reflexão amorosa, mas nunca, JAMAIS, pela humilhação ou pelo recuo forçado. Um ator experiente sabe improvizar, acolher, advertir sem agredir; sabe transformar uma quebra de protocolo em cena educativa que amplie, não quebre, a experiência e o afeto do espectador diante de si mesmo.


Um colega com 23 anos de teatro, que analisou o vídeo para me ajudar a chegar numa conclusão, refletiu sobre imagens semelhantes. Ele aponta algo elementar: a pedagogia do palco só tem legitimidade quando nasce do amor pela plateia. Improvisos que buscam corrigir, orientar ou até repreender podem (e devem) ser efetuados com humor, com acolhimento, com um gesto que integre o público ao espetáculo, e não que o lance para fora dele, nem que o transforme em vítima exposta. Popularizar o teatro implica justamente isso: permitir que novatos se aproximem, errando e aprendendo, não sendo punidos por uma hostilidade encenada.

É perigoso aplaudir reações que naturalizam a grosseria como “autenticidade artística”. Quando celebramos a punição física do público, como no caso de alguns comentários aqui abaixo, estamos concordando com um adestramento social cujo manual é o poder bruto: quem pode castiga; quem erra, é reduzido à vergonha pública. Essa “lição” tem consequências reais: desencoraja novos públicos, amplia o fosso entre palco e plateia e transforma o ato de ir ao teatro numa experiência ameaçadora e elitista.

Um ato infeliz justifica conversa, não pancada. A arte verdadeira transforma pelo afeto e pela coragem de abrir portas, não por cerrá-las com ímpeto vingativo. Se queremos um teatro vivo e amplo, que cumpra sua missão social de tocar e formar, então a resposta a um deslize do público deve ser invenção gentil: chamar, puxar para dentro do jogo, rir com quem erra, educar com calor humano. O tapa que se tornou notícia ensina o contrário, e por isso merece reprovação clara e intransigente: a pedagogia artística só encontrará sua grandeza quando recusar a violência como argumento.

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