
No último dia 5, durante um simulado da disciplina de Direito Empresarial na Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, a cantora Jojo Todynho foi apontada em uma confusão que resultou no registro de um boletim de ocorrência por suposta injúria contra colega de classe. O caso, que tramita na 32ª Delegacia de Polícia (Taquara), me fez refletir com profundidade sobre o caso: não apenas o conflito em si, mas o uso do aparato policial para resolver ou pelo menos registrar oficialmente uma desavença interna de sala de aula. Uma coisa eu posso garantir: Se não fosse Jojo Todynho, não existiria Boletim de Ocorrência sendo feito.
O episódio se desenrola em dois tempos: de um lado, o comportamento observado por colegas: barulho de um grupo durante o exame, pedido de silêncio por parte da professora e dos demais alunos, e a resposta ríspida atribuída à artista. De outro, a reação institucional: o estudante ofendido faz uso do direito de registrar boletim, a artista nega e anuncia que vai processar o denunciante por denunciação caluniosa e falsa comunicação de crime. O resultado é uma dialética entre castigo social e institucionalização de conflitos, em que a sala de aula, lugar de aprendizado e divergência, passa a comportar caixa de ressonância de vigilância.
Entretanto, cabe perguntar: até que ponto esse mecanismo “registrar ocorrências” em vez de “dialogar divergências” revela uma tendência autoritária por parte de certos alunos contra Jojo. Infelizmente, é inegável que o "ranço político" que se instalou sobre Jojo fez com que ela passasse a ser 'mais perseguida' no ambiente universitário. O conflito em si é antigo nas faculdades: discórdias, discussões acaloradas, até brigas, acontecem. O que se torna singular aqui é que a divergência, ou a mera reação a um pedido de silêncio, independentemente da forma que pudesse ter sido feito, ganhou o status de incidente que “merece” delegacia. Me poupe!
Em outras palavras, a normalidade da divergência acadêmica é convertida em expediente policial. Isso não apenas expõe quem está “dentro” ou “fora”, mas também cria uma lógica de punição antecipada para quem questiona o “silêncio” exigido ou o “controle” informal de conduta na sala de aula.
Como colunista atento aos meandros do poder simbólico, vejo na reclamação que recebi de colegas de sala de Jojo uma arapuca. Eu, por exemplo, já recebi três ligações nos últimos anos, do tipo: "eu estudo com a Jojo, vamos provocar, filmar a Jojô reagindo hoje, te intessa publicar?. E é por essas experiências individuais que tive como colunista que digo: a antecâmara dessa nova forma de intimidação merece reflexão do público, independentemente de ideologia política: o conflito não é apenas com a pessoa pública, é com o regime de visibilidade, com o mecanismo de denúncia, com a moralização pública que se instaura. A professora, os alunos, a estrutura universitária, todos participam desse cenário em que o debate acadêmico vira espetáculo de conflito e a denúncia policial se transforma em instrumento de disciplina.
Assim, muito mais do que “a Jojô que se exalta”, estamos diante de uma cultura de vigilância que se instala onde se disse que haveria liberdade de pensamento e divergência. Por fim, resta à universidade e à sociedade ponderar: queremos um espaço onde se registre boletim por cada irritação ou preferimos um ambiente em que a divergência seja gerida por debate, tolerância e regras claras de convivência? Porque quando o silêncio deixa de ser opção voluntária e vira imposição encapuzada de autoridade, o som que se faz não é o da voz que questiona: é o da lanterna da delegacia. E nessa penumbra, todos ficam expostos. Denunciar Jojo à polícia por discussão de sala de aula é uma canalhice sem tamanho.
