
Recentemente, Dado Dallabella protagonizou uma fala que soou como confissão: sem perceber, admitiu ter acionado em Marcela um dos gatilhos mais sensíveis que alguém pode carregar: o trauma de relações anteriores, ou seja, seu casamento passado. É quando o agressor, consciente das dores da vítima, transforma sua vulnerabilidade em arma. Para o advogado Diego Candido, que voltou a representar Marcela nas ações que estão sendo tomadas contra o ator, "esse tipo de comportamento não é apenas moralmente condenável: é um ato de violência psicológica, previsto e punido pela legislação que protege as vítimas de abusos emocionais e relacionais."
No campo emocional, essa prática é devastadora. Ela se baseia na manipulação da memória afetiva da vítima, buscando desestabilizá-la e reduzir sua capacidade de reação. Quando alguém se abre e compartilha seus traumas mais profundos, suas dores, estabelece um pacto de confiança, e quebrar esse pacto deliberadamente é uma forma de destruição simbólica. É como se o agressor dissesse: “eu conheço suas feridas e vou apertá-las até você perder o chão e a razão”.
É necessário compreender por que esse tipo de violência é tão eficaz. O agressor estabelece uma hierarquia invisível: ele domina o discurso, manipula o afeto e se coloca no papel de juiz das dores do outro. Julga o relacionamento passado da vítima transformando a mágoa em culpa. "No momento em que o Dado diz 'Por isso que seu relacionamento passado não deu certo', ele aciona de forma intencional esse gatilho", explica o advogado.
Já o direito, em especial a Lei Maria da Penha, reconhece que a violência psicológica é tão grave quanto a física, pois mina a autoestima, a identidade e o senso de segurança da vítima, tornando-a refém emocional de quem a agride. "O mais cruel é o ciclo que se forma: quando a vítima, diante de sucessivas provocações e humilhações, reage às vezes com um grito, um empurrão, um tapa, um gesto desesperado, há uma tentativa imediata de inversão da narrativa. O agressor passa a se apresentar como “a verdadeira vítima”, apagando o contexto de manipulação e sofrimento que o antecedeu. É a distorção clássica das relações abusivas, em que o sofrimento psicológico é invisibilizado", complementa.
Ainda de acordo com Candido, 'é preciso compreender que palavras têm força política, jurídica e moral. Elas constroem realidades, mas também destroem. Quando usadas para reabrir feridas e desestabilizar alguém emocionalmente, tornam-se instrumentos de dominação. No fim, há palavras que batem e ferem muito mais do que qualquer tapa, que pode ser visto como uma legítima defesa diante das torturas psicológicas que a vitima passa'.
